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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pássaros noturnos 3



Pássaros noturnos e Pássaros noturnos 2

Noite de trilogia! Ouço os sabiás novamente. Mais um pouco e eu vou ficar mal acostumada. Já está quase amanhecendo e eu passei a noite escrevendo, acompanhada por essa agradável trilha sonora.

Me sinto privilegiada. Fico pensando naquelas pessoas que não conseguem dormir e ficam rolando na cama. Ou naquelas que escrevem no silêncio ensurdecedor da madrugada. Ou, ainda, naquelas que ouvem de fundo os ruídos de uma rua movimentada. Ou, por último, naquelas pessoas em que o único som da noite é o latido de animais tão inquietos quanto elas.

Iluminada pela luz do note e inspirada pelo som dos passarinhos, nem percebi a hora passar. As idéias foram surgindo lentamente, levemente, sem pressa, como quem não quer nada, quase organizadas, “redondinhas”. Aos meus dedos, só cabia a árdua tarefa de digitá-las no Documento1 do Word.

Daqui a pouco a cidade se acende, liga os seus ruídos, começa a sua rotina frenética. Daqui a pouco esses passarinhos irão parar de cantar. E mesmo se continuassem cantando, não conseguiriam ser ouvidos. Só a noite é capaz de nos dar essa liberdade. Talvez só a noite é que consigamos de fato nos expressar por completo. Talvez só de noite consigamos fazer com que coração e razão se entendam.

São dois pássaros. Um canta, o outro ouve. Depois trocam e ficam nesse revezamento. Não me perguntem como, mas eu sei. Eles estão conversando. Compartilhando momentos. Surpreendendo-se mutuamente. Colocando pra fora suas agruras. O canto é o texto dos pássaros. Tenho certeza. Aliás, hoje eu só tenho certezas.

Eles são insistentes, persistentes, quase teimosos. Cantam sem saber se estão sendo ouvidos ou não. Cantam somente com esperança. Cantam com o coração aberto. Cantam seu melhor repertório, sem medo de que seja em vão. Simplesmente fazem o que acham certo da melhor forma possível. Cantam sabendo que o dia já está chegando para interromper sua voz, mas mesmo assim não deixam de cantar.

Esses pássaros, que tanto me ensinam.

2 comentários:

  1. Maravilhoso.
    E como tudo que assim é, só pode ser por vir naturalmente...como o canto dos pássaros.
    No seu canto escutastes um outro e dele uma esperânça ouvida fez-se.

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