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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Momentos



Sabe aquele beijo no pescoço que te faz repensar toda a existência humana? Sabe aquelas noites intermináveis em que a gente conta os minutos para aparecer o primeiro raio de luz para podermos levantar e ir ao encontro dele? Sabe aqueles longos minutos que se transformam em horas diante do espelho, só para escolher a melhor roupa-sapato-maquiagem-cabelo-bolsa para poder agradá-lo? Sabe aqueles momentos difíceis, em que parece que o universo conspira contra a nossa felicidade, mas aí aparece ele com o sorriso mais lindo do mundo no rosto e a gente já nem lembra mais qual era o problema?

Sabe quando a gente dorme com o celular embaixo do travesseiro só esperando uma simples mensagem de boa noite e ele manda uma declaração de amor? Sabe a sensação de ter a pessoa mais linda e segura do mundo se sentindo frágil, deitada no teu colo? Sabe aquela voz absurdamente sedutora falando elogios no teu ouvido? Sabe aquele olhar obsceno que faz tu te sentires nua no meio de uma multidão? Sabe aquele divertimento secreto de perceber as hesitações dele? Sabe aqueles momentos agradáveis em que analisamos a voz dele, suas diferentes entonações, seus gestos, suas alterações de postura? Sabe aqueles momentos em que somos capazes de ler os pensamentos dele?

Sabe aquela sensação engraçada de quando tu dá 'oi' pra outra pessoa e ela usa o mesmo perfume que ele, e isso faz com que a gente se perca imediatamente em nossos pensamentos? Sabe aquele beijo que te envolve de uma maneira única te fazendo esquecer que o tempo passa? Sabe “aqueles dias” em que ele cuida de ti? Sabe quando tu estás doente e ele fica quietinho do teu lado só segurando a tua mão? Sabe quando ele perde o olhar em ti, sem se dar conta de que todo mundo já percebeu?

Sabe aquele momento sublime em que ele segura tua mão, olha nos teus olhos e diz a verdade?

Bons momentos deveriam fazer parte da vida de todas as pessoas. Assim, elas não se incomodariam com a fortuna alheia e todo mundo era feliz.

A felicidade é uma escolha e foi sempre por ela que eu optei. Ela é uma das únicas certezas que tenho.

Sabe quando não cabemos em nós mesmos de tanta felicidade? Pois é. Isso faz com que criemos uma necessidade especial de contagiar todo mundo com esse sentimento, além do desejo súbito de escrevermos esses textos piegas pro blog.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pássaros noturnos



Ouço passarinhos cantando perto da minha janela todas as madrugadas. Seus pios ecoam noite a fora embalando o sono de muita gente, enquanto servem de trilha sonora para as minhas noites insones. Ao ouvi-los cantar, fico pensando que talvez eu não seja a única que tenha necessidade de ficar acordada até tarde. Talvez eles também esperem alguma coisa de uma noite mal dormida.

Enquanto eles cantam, eu escrevo. Queria saber escrever algo a altura de suas melodias, queria que eles pudessem me ler com a clareza e a admiração com que eu os escuto. Pelo menos me consola não ser a única alma inquieta numa noite calma. Eles servem de inspiração, de incentivo. Afinal, estamos fazendo o que gostamos de fazer, simultaneamente. Trabalhamos em conjunto. Ambos quebramos o silêncio, eles com cantorias, eu com palavras. Ambas atividades tranqüilizadoras. No mínimo, simbólico.

De tantos lugares para se estar nessa noite amena, eles estão aqui, ao meu lado. Me fazem companhia, como se soubessem que eu precisasse. Talvez eles cantem por estarem angustiados. Aliás, notando bem, agora me pareceu ser um canto aflito, carregado de desgosto, reclamações e tristeza. Coisa boa deve ser poder cantar as tristezas, colocar pra fora tudo o que nos incomoda. E nada como a noite para fazer isso.

Talvez o passarinho lamente a perda de sua amada. Talvez ele cante um amor perdido, uma dor de cotovelo, uma dor de amor. Talvez ele esteja compondo. Talvez ele esteja ensaiando para declarar-se à sua amada. Talvez esteja se preparando para dizer tudo o que sente para a passarinha mais bonita do céu de Porto Alegre.

Ele poderia estar voando essa noite. Mas talvez não seja uma boa noite para voar, pois o tempo está nublado e não tem estrelas. Não seria um bom clichê.

Talvez o passarinho não goste de silêncio. Talvez ele seja um presente especial enviado para mim, de uma pessoa que sabe que eu não consigo mais dormir direito. Talvez ele seja simplesmente uma consciência pesada que precise desabafar. Talvez ele já cante o amanhecer e o que eu esteja ouvindo seja um bom-dia.

Agora já não os ouço mais. Talvez seja hora de dormir.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ele



Fico imaginando ele deitado em sua cama. Não sei dizer se de dia ou de noite. Apenas deitado, pensando na vida. Em que será que ele pensa? De certo nas ex-namoradas. Talvez no trabalho. Fico imaginando seus devaneios, seus pensamentos deslumbrados. Fico tentando imaginar ele fazendo planos.

Fico imaginando ele acordando, com um sorriso no rosto, se espreguiçando nos lençóis pouco amarrotados. Quase consigo sentir o cheiro do seu despertar de manhã cedo. Também fico imaginando ele rolando na cama, tanto de felicidade como de insegurança. Consigo imaginar ele apalpando o travesseiro sem ter consciência do ato.

Fico imaginando as cobertas acariciando o seu corpo, velando o seu sono, ouvindo suas confidências noturnas, sendo cúmplice dos seus desejos.

Penso nele deitado numa cama de casal, acordado, mas com os olhos fechados, imaginando cenas e diálogos com a mulher que ousa a lhe tirar o sono, que tanto quer ser dona dos seus pensamentos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Falta de atitude



Tava aqui pensando sobre o post anterior e acho que errei numa parte. Me equivoquei em um trecho da história, a respeito do príncipe. Mas o bom de escrever é justamente poder reescrever o que não está adequado.

Eu tinha dito que no conto de fadas pós-moderno o príncipe tinha deixado a princesa. Até aí, tudo bem. Mas na continuação eu escrevi que sair de casa tinha sido a última atitude do príncipe. Erradíssimo!

Na verdade o príncipe sofre de falta de atitude crônica. E é muito grave. Ele seria incapaz de tomar uma atitude dessa magnitude. Quem juntou suas coisinhas e foi embora, foi a princesa. Ela não conseguiu suportar a canalhice do príncipe, nem sua inércia perante a crise no relacionamento.

Não adianta. Pode passar o tempo que for que e o príncipe não muda, não cresce. Se antes de terminar o relacionamento ele não sabia o que fazer, agora que acabou é que ele não sabe mesmo.

O príncipe está em apuros e não admite. Aliás, nem percebe. Sua vida sem princesa não tem dado muito certo. Ele insiste em mostrar a todos uma pessoa que ele não é. Vive de aparências. Se inspira nos príncipes mais antigos, de outras épocas, no tempo em que eram cavaleiros e usavam armaduras, pois, hoje, ele não sai de casa sem a sua. Sai pronto para atacar, pois acredita que o ataque é a melhor defesa.

O príncipe se defende das suas fraquezas – e não tem nada de errado nisso. O problema é a maneira como ele faz isso. Ele se utiliza de fórmulas prontas. O príncipe, do alto de toda sua auto-suficiência, já tem uma resposta pra tudo. Ele vive de clichês. “Um conjunto de clichês”. Ele reage com frases prontas; tem fórmulas para resolver todos os seus problemas. O príncipe pós-moderno é burocrático demais. Odeia que as coisas fujam do seu controle, mas é isso que sempre acaba acontecendo.

Dessa forma, ele acaba deixando de lado um dos prazeres da vida: a improvisação. Qual é a graça de saber de tudo? Às vezes é bom dizer “não sei”. E digo mais: não existe problema nenhum em dizer que não sabe. Ninguém é obrigado a ser sabidinho. A dúvida tem seus benefícios e as incertezas, na maioria das vezes, trazem uma inspiração que dificilmente surgiria com todas as regras que o príncipe impõe à sua vida.

Falta atitude para o príncipe reconhecer suas fraquezas. A falta de atitude permeia a vida do príncipe, infelizmente.

Hoje em dia, somente homens de verdade têm atitude. E não basta ser homem para ter atitude. Ser homem, não significa ser de verdade.

Feita a correção. Desculpe a injustiça, princesa.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eternamente casado



Era uma vez um príncipe encantado. Ele vivia o início de sua vida adulta calmamente, acreditando estar fazendo tudo corretamente e no tempo certo. Era casado com a princesa mais inspiradora do reino, que vivia para satisfazer suas necessidades. Um homem de muita sorte, eu diria. O casal era bastante unido, o que os facilitava para superar os obstáculos que a vida lhes teimava em proporcionar. O reino que habitavam estava passando por uma forte crise, mas o príncipe tinha tirado a sorte grande: a sua princesa jamais o decepcionaria. Ela estava sempre lá, o apoiando nos momentos mais difíceis, segurando sua mão, zelando seu sono, falando palavras de incentivo, agüentando as intempéries do relacionamento. A princesa acreditava no príncipe.

Com o passar do tempo, podemos perceber que a princesa era boa demais para o príncipe. Ela era mais decidida, mais confiante, mais segura. Ele não soube lidar com isso. Como príncipe, achava que tinha a obrigação de ser o melhor de todos. Acreditava que ele é quem deveria cuidar da princesa, e não o contrário. Ele deveria ser a personalidade forte na relação, aquele quem protege o parceiro, aquele que sabe para onde ir sem precisar de mapa. Foi quando, em determinada dificuldade, o príncipe se descobriu em baixa e resolveu não aceitar mais essa situação.

Então, em um dia chuvoso, o príncipe acordou em crise. Resolveu ir embora de seu castelo, abandonando sua amada. Isso aconteceu porque ele não sabia ser feliz, não sabia que tinha tudo o que precisava para sobreviver e não sabia dar valor à princesa que tinha. O príncipe entrou em fase de separação. Não, não. Não houve fase de separação. Ele simplesmente abdicou da princesa de uma hora para outra. Brigou e foi embora. Se não pudesse ser pior, ele a deixou em um momento delicado da vida, como só uma pessoa muito egoísta e sem coração conseguiria fazer.

A partir daí, o príncipe se fechou no seu mundo particular. Abandonar a princesa foi a última atitude que ele conseguiu tomar na vida. Depois disso, nunca mais lutou pelo o que quis. Só arrumou desculpas e mais desculpas para evitar tomar decisões. O medo de errar rondava sua nova moradia. Ele começou a sofrer mais do que tinha imaginado e continuava a não admitir seus problemas. Ele era um príncipe, não podia dar o braço à torcer. Porque antes de ser casado com a princesa, ele era casado com seu orgulho. Assim, recusou todas as chances de se erguer que lhe foram oferecidas. Ignorou todos que tentaram acreditar no seu talento e lhe estender a mão. Porque também era casado com a sua arrogância.

Após a separação, ele também optou por renegar seus sentimentos. Não levava mais nenhum relacionamento à sério nem queria criar laços profundos com qualquer outra pessoa. Fugia na direção oposta, mesmo contra sua vontade. Não se permitia envolver com outras princesas. O príncipe estava traumatizado. E isso foi trazendo um cansaço quase existencial para ele. Tudo porque era casado com seu medo.

Ele não conseguia fazer ninguém feliz, porque era casado com a sua própria felicidade. Se preocupava unicamente com a sua felicidade, passando por cima de qualquer sentimento alheio. O que importava era ser feliz, mesmo que isso causasse sofrimento a quem estivesse por perto. Era casado com seu egoísmo. Sempre via defeito nos outros, mas nunca soube – nem se importava – em lidar com os seus.

Apesar de tudo, o príncipe não abriu mão do seu jeito galanteador. Dessa forma, foi se tornando um conquistador cada vez mais experiente. Tornou-se um homem da noite. Pelos reinos por onde passava, deixava as princesas suspirando enlouquecidamente. Muitas vezes chegou a ser motivo de briga entre elas, o que só aumentava seu deleite. Porque o príncipe também era casado com a Sra. Sedução.

O que o príncipe não sabia era o seu final. Ele tinha decidido que o tempo, que era uma das suas principais preocupações enquanto casado com a princesa, não era mais importante. Mal sabia ele o seu destino. Nunca desconfiou que um dia ele não seria o príncipe mais disputado do reino. Não imaginou que um dia a sua beleza poderia lhe abandonar. Nunca lhe passou pela cabeça que depois de tanto negar relacionamentos de verdade, só restariam os superficiais. Ele acabou se apegando a esses relacionamentos de mentira como se valessem grande coisa. E isso não vai mudar. Ele sozinho é incapaz de fazer tal alteração. Porque ainda vai fazer mais um casamento, provavelmente o último: com a soberba.

O final óbvio do príncipe nos leva a imaginar que ele vai acabar sem reino e sem trono. Meu sexto sentido diz que ele ainda vai acabar sem princesa. Vai ficar sem majestade e sem herdeiros. No final, esse príncipe vai virar sapo.

No conto de fada pós-moderno, o príncipe precisa ser salvo por uma princesa. Só que para ser salvo, ele precisa estar solteiro. No mínimo, divorciado.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eis a questão



Hoje vou postar sem postar.

Escrevo muita coisa que não deveria escrever, das quais sempre acabo me arrependendo. É que escrevo muita coisa que não posso postar. Escrevo muita coisa que não posso postar e quero muito postar. Então resolvi postar, mas sem postar. Por isso selecionei algumas partes de um texto que não posso divulgar na íntegra para postar aqui.

Não vou citar o título. O que estiver entre aspas é uma cópia literal do original. As reticências entre colchetes são para expressar os trechos editados. É um texto sobre um casal apaixonado. O primeiro parágrafo começa assim: “Ele e ela. Primeira vez juntos. [...] Tinham ido passar o final de semana juntos na Serra. Clima frio, tempinho bom, aquela excitação inicial de qualquer início de relacionamento. Ele só tinha olhos pra ela, e vice-versa.”

A seguir, podemos ler: “[...] foram passear pelas ruas da cidade, exibindo-se como só um casal recém formado sabe fazer. Esbanjavam felicidade e exalavam cumplicidade. Era bonito ver os dois compartilhando aqueles momentos a sós. [...] Andavam de mãos dadas como se fossem os últimos seres do planeta, como se não houvesse mais ninguém.”

Alguns acontecimentos. Novos rumos. Três parágrafos editados. “Assim que amanhece, ele a acorda com muito carinho, fazendo-a despertar lentamente, com [...]”. A ponta solta foi para ti, leitor, soltar a imaginação. “Ela, antes mesmo de abrir os olhos, já esboça um pequeno sorriso nos lábios.

Mais um parágrafo retirado e prossegue assim: “Quando eles foram em direção à Serra, quem dirigiu foi ela. Agora, ela não estava a fim de pegar no volante, mas também não queria pedir para que ele o fizesse. Porém, a sintonia dos dois era tanta, que ele leu seus pensamentos e se ofereceu para dirigir. [...] Mais do que isso, ele parecia ter toda a paciência do mundo com ela.” Mais algumas frases piegas. 

“Seguiram por algumas horas na estrada, até que ela começou a sentir frio.” Mais algumas frases cafonas e temos: “Já em solo xxxxxxx, o casal passeou de mãos dadas [...], fazendo inúmeras compras. Ele comprou um bom vinho [...] para presentear seu pai. [...] Um vinho também pra celebrar a noite e brindar àquele momento especial.”

Acho melhor situar um pouco. Segue um parágrafo sobre os dois: “Ele tinha acabado de sair de um relacionamento longo, com uma mulher que não sabia respeitar suas convicções; ela já estava cansada de se envolver superficialmente e do ritmo acelerado dos encontros e desencontros que a vida lhe proporcionava. Quando os dois se encontraram, ambos viram a salvação um no outro. [...]” Se está parecendo horrível, imaginem o original. “Acreditaram que podiam deixar suas vidas para trás e seguir adiante, excluindo qualquer possibilidade de dar errado daqui para frente.”

Ta, chega! Vou encaminhar para o desfecho. “Ao anoitecer, o casal foi jantar em um aconchegante restaurante da cidade. Ela estava linda; tinha caprichado no visual [...] Os olhos dele brilhavam, revelando toda a sua aprovação.”

“Durante o jantar, ele era ‘só elogios’ para ela. Naquele momento, enquanto ela ouvia-o falar, pensou que realmente as coisas poderiam dar certo às vezes.” Quase um conto de fadas, eu sei.

E ainda não acabou. “Eles passaram boa parte do tempo conversando muito próximos um do outro. Exalavam intimidade. Trocavam olhares apaixonados. Beijavam-se como se ninguém estivesse olhando. [...] O melhor beijo do mundo. [...] Uma certeza quase incomum.” E acho melhor terminar por aqui.

Quem dera pudéssemos editar a vida como editamos um texto. Coisa boa poder “tirar” a parte que não achamos conveniente. Muito interessante poder substituir um momento por uma reticência. Felicidade geral poder apagar o que não gostamos com apenas uma tecla. Pena a vida não permitir rascunhos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre cartas



Eu e a minha compulsão pelas palavras! Na era das mensagens instantâneas – que são práticas, mais muito impessoais – eu senti a necessidade de “relembrar os velhos tempos” do papel e caneta. Queria muito escrever uma carta, à próprio punho, seja qual fosse o destinatário e o assunto. O objetivo era escrever, viver essa experiência diferente com as palavras, apreciar a minha letra errante.

Assim, me propus esse desafio. Sugeri no Twitter trocar cartas com alguém. Será que alguém gostaria de receber uma carta? Será que alguém ia topar a idéia? Algum curioso, de repente? Ou melhor, será que eu acharia alguém que estivesse precisando de uma atenção especial, de palavras amigas? Aí seria juntar o útil ao agradável. Mas, melhor ainda, será que encontraria alguém que, assim como eu, acreditasse que o papel e a escrita à mão fossem bem melhores do que palavras digitadas? Será que encontraria alguém cansado da virtualidade dos relacionamentos e das “conversas com as pontas dos dedos”?

Qual não foi a minha felicidade ao encontrar uma cobaia, digo, alguém disposto a colaborar com essa minha vontade súbita. Era um amigo de longa data, pra quem eu dava cada vez menos atenção, devido à falta de tempo de que todos nós sofremos atualmente. Ele sempre me recebeu de olhos atentos e sempre incentivou e participou dessas minhas “pequenas loucuras”.

No primeiro momento fiquei em dúvida sobre o que escreveria. Porém, logo em seguida me confortei, pois as palavras nunca me abandonaram em momentos de incertezas. Seguramente encontraria umas palavras pra dizer.

Uma carta escrita à mão possui um charme incompatível com os novos meios eletrônicos de comunicação. Não sei dizer se é pelo movimento do punho, ou pela imponência da caneta, pela força que fazemos sobre o papel ou pelo jeito como seguramos o material escrevente. Só sei que quando escrevemos desse modo antigo, somos obrigados a parar tudo o que fazemos e dedicar uma atenção exclusiva à atividade. Impossível fazer outras coisas ao mesmo tempo, como estamos acostumados a fazer.

Ao escrever uma carta, nos livramos da impessoalidade da qual somos submetidos da comunicação todos os dias. Além disso, é um prazer escrever para uma pessoa sem obrigação nenhuma, sem qualquer intenção pré-definida. É muito bom dar um tempo na correria do dia-a-dia e dedicar um momento do nosso precioso tempo para uma única pessoa. Aliás, qual foi a última vez que tu, leitor, dedicou um tempo especialmente para uma pessoa, sem mais nem menos, sem querer nada em troca?

Existe muito mais emoção ao interpretar uma letra do que assimilar letras impressas. A letra pessoal pode conter informações sobre o próprio remetente que nem imaginamos  e, assim,  revelar mais do que o previsto. Também é bom porque dessa forma somos mais livres para escrever o que queremos, não precisamos ficar pensando no que dizer a seguir, ou na resposta que vem em seguida. Temos tempo para compilar as palavras do melhor jeito, para dar maior objetividade ao que escrevemos, para dar o efeito que melhor  convêm. E o melhor de tudo: ninguém interrompe, não tem confronto imediato de idéias.

Só que escrever uma carta não é uma tarefa simples. É preciso enviá-la. E para quem nasceu na época digital, essa pode não ser uma tarefa muito fácil. Como faz para enviar uma correspondência? Meu Deus! Será que nasci num mundo tão informatizado que não sei nem enviar uma carta?

Primeiro me lembrei que era preciso comprar um selo, juntamente com um envelope, é claro. Mas onde fazer isso? Quanto custa? Onde tem uma agência do Correio perto da minha casa (ou melhor, na minha cidade)? Ainda existem agências físicas de Correio? Quem freqüenta esse tipo de lugar? Para acrescentar mais dúvidas, meu pai disse (sim, como quem não quer nada, tive que pedir socorro pro papi) que existem pequenas caixas de correio nas ruas, onde posso colocar a minha correspondência. Crise total. Onde estão essas caixas? Será que por que nunca enviei uma carta (meu deus! Nunca enviei uma carta!) eu nunca percebi a existência delas? O nome delas é “caixa” mesmo? E quem me garante que o moço do Correio (carteiro ainda é uma profissão?) vai passar ali e pegar a minha carta? Nunca vi nada disso acontecer.

(Tá, desculpem a ignorância. Mas realmente nunca tinha parado para pensar como a correspondência chega na minha casa. Também nunca precisei ir numa agência de Correio. Aliás, nem conheço o carteiro que passa na minha rua. Vergonhoso, eu sei.)

Bom, continuando a saga para terminar essa atividade a que me propus, pedi socorro àquele que sempre me dá respostas quando eu preciso (e nunca julga minhas perguntas): Mr. Google. Sempre resolvendo boa parte dos meus problemas, me indicou a agência dos Correios mais perto da minha casa, como chegar lá (Google Maps, né? Como eu saía de casa antes dele?), entre outras informações. Enfim, consegui enviar a carta. Não escrevi nada de espetacular, mas a intenção era ser simples mesmo. Como será que me saí nessa história? Será que minha carta vai parar no lixo? Será que vou obter resposta pelo correio? Será que agradei? (É mania de RP querer um feedback?) Não sei, nem quero influenciar qualquer possível reação do destinatário. A idéia, também, era ser espontâneo.

Pra finalizar, preciso dizer que é muito bom escrever uma carta pra quem a gente gosta. Por outro lado, percebi como é triste fazer parte dessa geração digital que ignora qualquer meio de comunicação que não seja o eletrônico.

Por último, quem curtiu a idéia, ou quem ficou curioso, e quiser receber uma cartinha em casa, sobre qualquer assunto (ou algum assunto específico também, não tem problema, eu escrevo) estou disposta a continuar com esse hábito. É só mandar um email, ou comunicar por MSN ou Twitter, dizendo qual é o endereço para a postagem. Pode ser um desconhecido, sem problema nenhum. Acho interessante a idéia de conhecer alguém por carta. Vamos lá!

Email/MSN: juleiria@msn.com
Twitter: @juleiria