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segunda-feira, 31 de maio de 2010

A evolução da infância (ou não!)


Acho que tô ficando velha.

No meu tempo, as crianças respeitavam os pais – o que não significa que eram santas, mas também não eram incontroláveis como são hoje. Elas eram pequenos alunos e não grandes clientes das escolas. Nunca ninguém tinha ouvido falar em bullying. Os pequenos brincavam um na casa do outro e não através de computadores. A comida preferida era um dos doces que a mãe fazia e não McDonald’s.

Naquele tempo, as crianças eram “normais”. E os desenhos que passavam na TV eram considerados assim também. Programas como Mandachuva, Cavalo de Fogo, Os Jetsons ou a Pantera Cor-de-rosa (aliás, cor essa ainda exclusiva das meninas) povoavam a mente dos pequenos. O mesmo acontecia com os mais antigos, como Pica-pau, Tom&Jerry e Zé Colméia. Tudo era diversão; ninguém via problema algum na programação infantil.

Hoje em dia, devido ao sucesso do politicamente correto, alguns desses desenhos infantis são considerados inadequados para o público infantil. Por exemplo, o Papa-léguas (que hoje eu já não sei mais se tem hífen ou não), sofre críticas por mostrar uma perseguição incansável e desleal ao “pobre” Coiote. Parece que não se pode mostrar o “lado errado”, o bandido, tudo por causa de um medo bobo de que as crianças assimilem coisas erradas. Na verdade, elas precisam ver essas maldades, pra aprender, justamente, o que é errado. O mesmo acontece com os Power Rangers, que já não é mais exibido para os pequenos, sendo encontrado somente em canais de desenhos antigos, para os saudosistas. Hoje, eles são considerados violentos, impróprios para a formação das crianças.

Com isso, se espalharam os desenhos babacas, que mostram somente um mundo utópico, como se as crianças não precisassem ver o lado real das coisas. O Coiote sempre nos ensinou a nao sermos passados para trás. A moda dos desenhos educativos nos trouxe programas como o Barney, Hi Five, Lazytown e Clifford, o gigante cão vermelho. Se não fosse suficiente, já existem “novas versões” para as tradicionais historinhas como Chapeuzinho Vermelho e Os três porquinhos, em que o personagem do lobo-mau.não é  vilão da história. Estão mudando até os clássicos! A que ponto chegamos? Ninguém vai ser melhor ou pior que alguém por ter lido um desses contos. Os vilões devem ter seu espaço no desenvolvimento da sociedade sim.

Além disso, antigamente, os programas voltados aos pequenos eram apresentados por personalidade marcantes, de boa conduta, que contribuíam no bom desenvolvimento das crianças. Eram ídolos de uma época que vai deixar saudade. Xuxa, Angélica e Eliana eram pessoas doces, que sabiam lidar com seu público, pois serviam de exemplos pra ele. Hoje, esses mesmos programas são apresentados por crianças prodígios – bem chatinhas, e às vezes até mesmo irritantes –, que não conseguem se comunicar adequadamente, nem se posicionar diante da tela ou ainda apresentados por personalidades mais provocantes – essas sim verdadeiramente inadequadas! – contribuindo com a erotização precoce dos pequenos. No meu tempo, por exemplo, as apresentadoras não tinham silicone, não abusavam da  maquiagem, nem se comportavam de maneira duvidosa. Isso é triste, tendo em vista que isso  colabora para a redução dessa etapa tão boa da vida que é a infância.

Medo desses novos tempos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Aquele mar


Eu tenho uma teoria que diz que o mar conserta qualquer coisa. Qualquer desilusão, dor de cotovelo, ou coração quebrado. Traz paz de espírito e vontade de recomeçar.

Tudo isso porque há cumplicidade entre nós e o mar, pois parece que ele conhece todos os nossos segredos. O mar nos faz sonhar com os pés no chão. Traz inspiração. Faz nos sentirmos apaixonados – seja lá pelo o que ou quem.

À beira do mar, o vento bate no rosto e desnuda a alma. Os passos na areia nos fazem sentir o caminho. O mar reflete a sua imensidão na imensidão do nosso olhar; é o melhor espelho. A brisa nos consola, nos conforta e acaricia. O mar dá cor aos nossos sonhos e incentiva o nosso sorriso. O nosso suspiro se confunde com o barulho suave das ondas.

Olhando o mar, qualquer dor diminui, qualquer incerteza se acerta, qualquer céu nos comove. A leveza das ondas junta-se à maciez da areia para nos darmos conta da fluidez da vida. Representa a brevidade dos pensamentos e a transitoriedade dos sentimentos.

Como dizia Quintana, que vento bom sopra do Mar Oceano!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Início bom


O que foi aquele post anterior?! De onde saiu tanta melancolia? Creedo! Mas digamos que foi a necessidade de atualizar o blog.

Bom, e como toda mulher, mudo de idéia muito rápido, então...

Início de relacionamento tem lá suas vantagens, sim! Afinal, é sempre bom conhecer alguém; é sempre bom se apaixonar por alguém. Se ela vai permanecer em nossa vida, só o tempo e as atitudes podem dizer.

Quando ainda estamos conhecendo uma pessoa, sempre mais tolerantes – não só com a própria pessoa, mas com a vida; estamos mais dispostos a descobrir o novo; estamos curiosos. Não conhecemos limites para tentar desvendar os mistérios que a circundam. Somos abusados; somos irresistíveis. Utilizamos todas as nossas artimanhas – e estratégias! – para conquistar o alvo. Nos tornamos ardilosos, astuciosos. Em certos casos, é de dar inveja o nosso jogo de cintura. E a lábia, então?! Melhor do que a de muito político!

Ousamos sem medo errar. Agimos com a certeza de que não temos nenhuma satisfação para dar a absolutamente ninguém. Agimos livremente. Somos instintivos (e tem coisa melhor do que agir por instinto?). Colocamos nosso coração na mão de outra pessoa, sem receios, afinal, somos só coragem.

Somos sociáveis, mesmo sem fazer uso de certas substâncias. Nos sentimos mais vivos, somos mais loucos, mais felizes. Amáveis amantes amadores.

Começos são divertidos e excitantes. Todo início é uma oportunidade.

Só perguntas


Não sei se gosto ou não do início de um relacionamento. Nunca sei direito o que procuro numa pessoa, até porque tudo depende do momento que estou vivendo. Depois que se convive com ela, fica tudo mais fácil, mas o início...

Nunca temos certeza de nada. Que rumo vamos dar pra vida? Quem deve tomar as iniciativas? Como devemos nos comportar? O que podemos expor – ou não – sobre o nosso passado?

Afinal, quem é essa pessoa? Do que ela precisa? Vale a pena investir, insistir? Até que ponto os dois estão dispostos a correr atrás da felicidade? E conseguiremos realmente enfrentar o que vem pela frente?

São só perguntas que me facilitam a achar o caminho. Até porque – “aliceando” – quando estamos perdidos, qualquer caminho serve.

Depois de tanto procurar, a gente aprende a encontrar. O primeiro passo é se desprender do passado.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Amor público


Todos os apaixonados têm uma grande necessidade de demonstrar o amor que sentem um pelo outro publicamente. É só olhar para eles: estão sempre bem-humorados, de bem com a vida, com a cabeça no mundo da lua. Reconhecemos um apaixonado de longe.

E essa necessidade de divulgação de sentimentos começa bem cedo, já na escola. O caderno cheio de fórmulas matemáticas, mapas e ditados, e lá, na última página, um coração com as iniciais dos queridos, onde em baixo se lê “4ever”. O próximo passo é transpor esse coração para a casca da árvore do pátio do colégio. O seguinte, é gravar as iniciais no banco em que todos sentam no recreio. Mais além, o mesmo coração, talvez já com outra inicial, rabiscado na porta do banheiro.

Hoje, o virtual veio para contribuir com essa exposição. É preciso criar um perfil do casal no Orkut e rechear de fotos dos dois agarrados em todos os momentos. O nick do MSN deve vir com as iniciais dos pombinhos e o subnick com uma letra de música que expressa “exatamente” o que ambos estão sentindo. Sem esquecer os depoimentos no Orkut, que se tornaram declarações Ctrl+C + Ctrl+V de letras de música também.

O problema é que essa história deveria parar por aí. Porém, hoje, como a adolescência se “esticou”, algumas pessoas acabaram perdendo a noção do ridículo e ainda acham necessário propagar seus sentimentos aos quatro cantos. É por isso que, volta e meia, vemos um outdoor pedindo alguém em casamento ou com aquelas juras de amor eterno. Sem falar naqueles que mandam carros de tele-mensagem para envergonhar... digo, afirmar todo o seu amor. O recado é para ela, mas o bairro inteira fica sabendo. É o ápice da necessidade de divulgação.

Isso tudo tem a ver com a necessidade das pessoas, cada vez mais freqüente, de auto-afirmação. Parece que só seremos felizes se todo mundo souber que somos felizes. Felicidade a dois não existe mais. Hoje, é preciso “prestar contas” dos nossos sentimentos à sociedade. Ser “feliz para os outros” pode até ser bom por um tempo, mas logo perde a graça.

Doce ilusão. Na verdade, temos que dar satisfação para uma única pessoa: nós mesmos. Se não corrermos atrás da nossa felicidade, ninguém vai fazer isso por nós. Cada um tem o seu próprio ritmo e ninguém tem nada a ver com isso. Estamos nos desinteressando pela cumplicidade a dois; estamos esquecendo como é bom guardar segredos. Precisamos aprender a ser felizes na ausência também. O coração não precisa estar na ponta dos dedos.

domingo, 9 de maio de 2010

Ele leão, ela leoa


Não pretendo enjaulá-lo – nem ser enjaulada. Irei lhe ajudar a expressar seus impulsos criativos; tenho habilidades para a organização do seu reino. Serei eu mesma, como sempre fui. Nunca à sua sombra, sempre ao seu lado.

Saberei lidar com o seu excesso de autoconfiança e auto-suficiência. Dedicarei muita atenção, e aceitarei suas necessidades infantis com bom humor. Saberei contornar a personalidade forte dele e a minha também. Ele terá orgulho de mim. Não terei dificuldades em entender sua necessidade de viver a própria vida à sua maneira. Adorarei seus desaforos, mas não mais que sua sensualidade.

Conseguirei lidar com seu carisma e elegância que tanto chamam a atenção. Antes de sermos fiéis, seremos leais. Dividiremos o palco. Se ele for 8, eu o completarei com 80. Ajustarei-me facilmente à sua realidade. Juntarei meu grande coração com o seu grande coração, e lutaremos contra as injustiças lado a lado. Iremos nos vangloriar juntos dos gestos nobres. Defenderei seus amigos até o fim. Terei honra de estar ao lado dele. Sua teimosia? Fará frente à minha. O orgulho feroz? Será quebrado com o mais simples sorriso. Egocêntrico? Menos do que eu, com certeza.

Vamos brilhar juntos. Uniremos nossa intensidade, nossa energia e nossa determinação. Somos paixão. Amamos tudo o que fazemos. Celebraremos as relações amorosas e tudo o que é romântico. Um mima o outro e vice-versa. Um vai querer elogiar mais o outro, e vice-versa também. Não conheceremos limites. Agiremos com muita força e muito desejo. Um beijo de fogo. Um beijo-arte.

Entenderei sua sensibilidade e ele me ajudará a entender a minha. Não odiarei sua vaidade, nem sua necessidade de aprovação constante. Estarei 80 quando ele estiver sensível; estarei 8 no auge do seu temperamento incontrolável. Saberemos nos subordinar um ao outro mesmo sendo autoritários. Ele me ensinará a lidar com as críticas; saberá acalmar o meu coração. Isso será recíproco. Seu super-bom-humor vai amenizar a minha impaciência. Seremos sempre agressivos, pois sempre vamos precisar dessa agressividade.

Deixarei ele chamar a atenção de quem quiser. Saberei elogiar suas qualidades. Será o meu melhor amigo. Vou admirar sua imponência. Dobrarei sua arrogância com mais arrogância. Sabemos bem o que queremos e conseguiremos tudo no final. Seremos rei e rainha.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Legendas da vida real



Eu prefiro filme legendado. Esses dias comprei ingresso pra sessão da meia-noite e vinte só pra ver a versão com legendas. O original é sempre melhor, sem dúvidas. A dublagem não passa de uma adaptação, uma reinterpretação. Nela, se perdem o tom de voz, o sarcasmo, a fina ironia, as interjeições, os suspiros. Fica sem emoção, sem vida. Fica muito sessão da tarde, sem magia. A legenda nos permite um paralelo com o que foi dito e a intenção com que se disse. Dá pra entender o que foi dito e que não foi. É a versão completa. É a leitura das entrelinhas.

Legendar é um exercício corriqueiro no nosso cotidiano: todos os dias legendamos cenas da vida real. Quando ele diz que hoje não quer sair e vai ficar em casa, logo ela entende como “ele tem outra”. Quando ele não manda uma mensagem de bom dia, ela entende como “não me ama mais”. Nós mulheres somos fiéis adeptas das legendas. Sabemos usar as palavras como ninguém: “dizemos uma coisa para dizer exatamente outra”.

Quem não gosta de legendas, é porque não consegue acompanhar o ritmo original das coisas. É aquele que quer facilitar a vida, como se houvesse real vantagem nisso. O bom de viver está nas pequenas coisas, não exatamente na palavra proferida, mas naquele olhar que diz tudo. Um olhar traduz a intensidade do que foi dito. O tom de voz indica a intenção do que se quer dizer. São as legendas da vida real.