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domingo, 17 de julho de 2011

Não está nos meus planos




Certa vez ele me disse que se apaixonar não estava nos seus planos. “Por um bom tempo não quero saber de relacionamentos”, foi o que eu ouvi. Pensei “que bobo”, até parece que o coração obedece a algum tipo de razão. É impossível não acreditar no amor.

Não sei por que mãos ele passou, não imagino o quão terrível possa ter sido seu último relacionamento, mas peraí: por que o amor tem que levar a culpa pelos seus desencontros? Que o bonitão não acredite mais nas fulaninhas com quem se envolve, tudo bem, até vai. Mas responsabilizar o amor pelo fim de uma relação e não querer mais se envolver com ninguém, no way. Isso é preguiça de continuar tentando.

Meu bem, não foi o amor que caiu fora, aliás, ele provavelmente nem entrou na história. Porque quando entra é pra somar, pra fazer feliz. Se a relação terminar, o amor merece, no mínimo, um aperto de mãos, fique bem. Dispensa a tua namorada, nunca o amor.

É claro que viver sem amor por uns tempos é normal. Mas viver sem amor pra sempre é incompetência, burrice. Escolher não amar é suicídio, é perder a razão de viver. E não adianta tentar compensar o amor com outras coisas, como amigos, mãe ou cachorro. Não são eles que ficam de mãos dadas contigo no cinema.

Quem estraga tudo somos nós, não ele. O amor não tem culpa de nada. Quem desiste dele, mesmo que só por um tempo, abre mão da felicidade, chuta a vida pra escanteio. E isso, definitivamente, não está nos meus planos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Eu me importo, tu me importas




Meu bem, um dia tu vais entender e me agradecer. Um dia tu vais deixar essa teimosia boba de lado e vai perceber que eu sempre fiquei do teu lado.

A gente vive numa época em que as pessoas se preocupam somente consigo, sem se importar com os outros. Estamos no tempo em que ninguém mais olha nos olhos, só dando importância pro próprio umbigo.

Eu sempre me importei contigo, sempre olhei nos teus olhos, sempre li tuas entrelinhas, sempre entendi teu silêncio e tuas palavras ásperas. Sempre prestei atenção nas tuas crenças, nas tuas indecisões, em tudo o que te paralisa. Desde que te conheci gasto minhas energias contigo, sempre insistindo.

E quem se importa de verdade com a gente, nunca desiste. Se chorando ou se sorrindo, estarei sempre aqui, me importando contigo. Eu me importo porque tu me importas.

domingo, 10 de julho de 2011

Amor em Paris




Foi passar 15 dias na França como musa inspiradora de um escritor incompreendido pela crítica. Ele passa a maior parte do tempo dentro do quarto do hotel, que tem vista da janela para a Torre Eiffel; intercala seus olhares entre a garota e a tela do notebook. Ela passa o dia deslumbrada, pensando na vida e no amor. Sua única preocupação é se mostrar interessante e útil para o escritor, no bom sentido.

Ela, cheia de vida, tenta tirar ele, que parece ter medo do mundo, de dentro do quarto. Propõe um passeio um ao livre, para abrir os pensamentos e arejar as idéias. Ele, mostrando-se relutante, no fundo, adorou a idéia. Ela lhe enchia de vontade, de coragem, de ânimo, de alegria. Ela falava pelos cotovelos, perguntava sobre tudo. Ele não entendia tudo o que ela dizia, mas adorava o seu jeito de ser.

Tendo a Torre Eiffel como pano de fundo, ela o fez deitar na grama e, quando ambos admiravam o céu, o questionou:
- Paris é uma cidade romântica, chega a ser clichê de tão romântica. Os casais vêm pra cá pra viver um grande amor... É, isso... Viver um amor ao pé da Torre Eiffel. Talvez até dançar na beira do Sena.
- Tu andas assistindo muitos filmes, guria. Ou andas lendo muita porcaria.
- Será que as pessoas não podem vir para Paris esquecer um grande amor? Tipo, será que existe o efeito contrário?
- Nunca vi ninguém vir para Paris para se desapaixonar. Talvez pra se apaixonar por alguém novo, mas nunca pra se desapaixonar.
- Mas será que não dá? Passar um tempo longe de tudo, num lugar que inspirador... Será que o coração não volta mais leve, menos agoniado?
- Talvez seja possível... Mas só se a intenção da viagem não for exatamente essa, se acontecer por acaso. Se a pessoa vem pra Paris pra esquecer um grande amor, é capaz de voltar para casa mais apaixonada ainda.
- Não me diz isso...
- Desculpa, talvez eu esteja enganado. Mas eu acho que a pessoa volta se sentindo melhor, apaixonada ou desapaixonada. Acho que quem vem pra Paris aprende a não se apaixonar pela pessoa errada.
- Promete?

Ela tinha muitas perguntas porque precisava de certezas. Ele tinha muitas incertezas e muitas perguntas. Eles não sabiam, mas Paris tinha todas as respostas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ensinamentos do fundo do poço




Olá,
estou escrevendo do fundo do poço. Resolvi mandar notícias minhas, a quem possa interessar. Foi um longo trajeto até chegar aqui, foram momentos muito árduos, mas não vem ao caso. Aliás, poucas coisas vêm ao caso aqui no fundo do poço e é disso que pretendo falar. Hoje, me sinto melhor.

Nesse tempo todo que passei presa aqui em baixo aprendi muitas coisas que gostaria de compartilhar. Primeiro, o fundo do poço é muito ruim, não queiram vir pra cá, de jeito nenhum. Aqui não tem sol e o clima é bastante frio. Também reina um silêncio muito triste e o ar é difícil. Por isso lhes digo, nem a maior das alegrias vale uma descida no inferno.

Não se tem muito o que fazer aqui no fundo do poço. As minhas atividades se alternam basicamente entre olhar para as paredes e cochilar. O problema maior é a noite, gélida e silenciosa, sempre bastante incômoda. Aqui, preciso dormir abraçada toda a noite com a solidão – e isso não é nada bom.

Mas não pensem que o fundo do poço não tem lá suas vantagens, basta saber vê-las. Uma temporada aqui embaixo pode trazer muitos ensinamentos. Por exemplo, foi olhando para as paredes que eu aprendi uma maneira de subir. Assim, descobri que às vezes a gente só não se ergue, por não ter algo para se apoiar. Aqui, a gente também aprende a não ter medo do escuro. Isso me fez dar muito mais valor à claridade. Quando eu chegar lá cima novamente, verei a luz com outros olhos.  

No fundo do poço, a gente aprende a procurar o lado bom das coisas – e a achá-lo. Aqui, eu aprendi que um olho roxo é uma ótima oportunidade pra se ganhar um Oscar de melhor maquiagem. Aqui, o corpo, a mente e o coração são sacrificados, mas a alma se purifica. Tudo isso, porque no fundo do poço a gente pode consolar a dor pessoalmente.

Agora eu entendi o que querem dizer com é preciso cair para se levantar. Às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para aprender a se erguer. Aprendi que no fundo do poço tenho a vantagem de não poder cair mais. Daqui de baixo, a única opção é subir. E é pra lá que eu vou.