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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ah, a saudade!



Sabe... às vezes tenho saudade de uma vida que não vivi. Sinto falta do que faltou viver. Saudade dos beijos intermináveis que não aconteceram. Saudade daquele lindo café na cama que não preparei pra ele. Saudade daquelas mordidas no ombro só para implicar. Saudade do ciúme bobo dele. Saudade de ficar em seus braços. Saudade dos sonhos sugestivos que tinha com ele.  Saudade dos diálogos encantadores que diziam exatamente o que eu queria ouvir. Saudade dos planos de viagem juntos. Saudade de usar aquele vestido que ele adorava. 

Saudade de uma vida inventada, de uma vida que poderia ter sido e não foi. 

Mas há uns quatro anos, mais ou menos, conheci uma pessoa (da qual hoje tenho saudade) que me ensinou que saudade "dá e passa". Ainda bem.

domingo, 26 de setembro de 2010

Fugindo



Tô querendo fugir de tudo. Tô precisando sumir. Nem que seja por pouco tempo. Algo do tipo pegar uma estrada vazia e ir pra um lugar tranqüilo. Tô precisando de clichês. Quero ir para uma daquelas cidades fantasmas, quase desertas, só com habitantes estranhos e desconfiados, mas que nem ligam para a minha presença temporária. Quero ir pra um lugar onde ninguém me faça perguntas, nem eu tenha que abrir a boca pra falar com alguém.

Quero passar uns quatro dias num motel velho de beira de estrada, com aquelas paredes finas que parecem ter sido feitas de papelão, com aquele letreiro luminoso falho escrito “há vagas”, com um quadro floral torto na parede, com um abajur imundo que não acende, com um cinzeiro que não é limpo há anos, com uma tevê que pega só dois canais mal sintonizados, com um frigobar com bebida ordinária.

Quero beber essa bebida ordinária até cair na cama e dormir um sono pesado por muitas horas. Quero acordar com a luz que entra por entre as persianas que não fecham, quero levantar sem dar bom dia pra ninguém e ir pegar uma coca-cola na máquina que fica do lado de fora do quarto pra fazer as vezes de meu café da manhã.

Quero voltar pro quarto e ficar em silêncio sentada numa cadeira duvidosa olhando pela janela a inércia do movimento da estrada. Quero passar horas assim, só espiando a vida alheia, imaginando vidas diferentes da minha. Quero pegar um caderno pequeno de espiral e uma caneta bic azul e passar horas escrevendo o que me vem na cabeça. A caneta vai falhar em diversos momentos, como quem me censurasse as idéias, mas não vai ser mais teimosa do que eu.

No fim do dia, estarei eu do mesmo jeito que acordei, ainda sentada em frente à janela escrevendo, mas agora com diversas folhas arrancadas e amassadas ao meu redor. A noite vai chegar, eu vou calçar um pesado par de botas e sair para comprar cigarro. Passarei a noite escrevendo, esvaziando garrafas e enchendo o cinzeiro. Vou dormir por cima da mesa, embalada pelos ruídos dos poucos carros que passam na estrada e sendo iluminada pela luz da rua.

No outro dia, acordarei com o latido dos cachorros e com uma batida na porta. Alguém que veio perguntar por mim, se estava bem, se não iria comer nada. Nesse momento vou me dar por conta que já estava há quase três dias sem comida no estômago e que vou ter que tomar uma atitude.

Resolvo tomar um banho, coloco um óculos escuros grande para esconder o rosto, e saio para fazer o que tinha que fazer. Passo mais uns três dias “vivendo” nesse ritmo.

Até que finalmente levanto com dor de cabeça, tomo um banho frio, coloco um vestido vulgar e ligo o celular. Pego o mesmo par de botas, paro do lado de fora do quarto, calço lentamente cada pé, tento acender outro cigarro e o isqueiro não ajuda. Decido ir embora daquele lugar e voltar pra minha vida de antes.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Borboleta-amor



Vou te trazer uma borboleta!
Sim! O que mais tu quer de mim, amor?
Que presente melhor eu posso te dar?

Ela vai voar comigo, me acompanhar até te encontrar.
Quando isso acontecer, nós vamos nos olhar e nos perder.
Aí nós vamos nos encontrar e nos perder, nos encontrar e nos perder, nos encontrar...
Mil vezes não serão suficientes pra se tornar rotina.

A doce borboleta vai voar ao nosso redor e pousar na minha mão.
Com um sorriso nos lábios, vou estender minha mão até a tua.

Tu vai pegar e levantar a minha mão como se tivesse me pedindo em casamento.
Silenciaremos nossos olhares e vivenciaremos surdamente aquele momento único, aquele toque.

Tu vai olhar pra borboleta e dizer que é o melhor presente que já recebeu.
Eu vou te dizer que tu sempre diz isso para todos os meus presentes.
Teus olhos vão me convencer de que tu estás sendo sincero.

Tua mão na minha mão vai me fazer sentir a pessoa mais feliz do mundo.
A borboleta vai sentar do nosso lado, como quem não quer ir embora e perder esse momento.
Nós vamos ficar conversando em silêncio.
Nós vamos curtir a presença um do outro, como se não existisse mais ninguém.
O meu coração vai falar com o teu e vice-versa.
Os teus olhos vão ler o meu corpo cuidadosamente.
O teu perfume vai se entrelaçar no meu perfume nos proporcionando o aroma perfeito.
Teu sorriso vai povoar a minha imaginação com os sonhos mais lindos que um dia existiram.
Tua respiração formará um dueto com a minha e juntos vamos ouvir a melodia mais apaixonante que nossos ouvidos já conheceram.
O balanço inquieto do teu pé direito vai parecer aos meus olhos o balé mais harmonioso e envolvente que já vi.

Tua boca vai me dizer as palavras mais lindas que tu pensou unicamente para mim.
Eu vou notar que a borboleta já voou, mas deixou com a gente um pouco da sua magia.
Vou sentir que, mesmo de longe, ela continuará conosco.
As cores da borboleta permanecerão para colorir nosso relacionamento e o nosso mundo.

Tu vai lançar um olhar tão encantador pra mim como se eu usasse uma borboleta no cabelo, no lugar de uma flor.
Eu vou sentir borboletas na barriga quando tu me der um beijo.
Nós vamos sentir borboletas pelo corpo todo quando finalmente nos entendermos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não (ou sim)



Bateram na porta da minha casa que eu não tenho,
e eu não estava.
Não tinha ninguém.
Ninguém entrou e sentou-se numa cadeira imaginária
e não conversou comigo como ninguém.

Jamais me esquecerei daquela ausência,
que tanto não discutiu comigo aquela carência de sentimentos.
Eu simplesmente não sabia mais de nada,
estava com um vazio aberto a tudo.

Aquela inexistência toda mexia com a minha essência.
Como me fazer presente? Como te dar um presente?
Estava faltando algo à minha existência.
Esse afastamento, essa distância me deixou sem chão.
Minha falta de ar só aumentava quando não te via.
Meu caminho estava perdido.
Próxima parada: sem rumo!
Disse isso tudo pra ninguém me ouvir.

Ninguém me escutou atentamente.
Depois ninguém me interrogou sem dizer nada
e eu contestei sem ver e sem falar.

Eu esqueço ninguém sem querer esquecer.
Eu não consigo esquecer ninguém nem quando ninguém esqueço.
Quero esquecer que quero esquecer ninguém.
Quero esquecer que não esqueci ninguém.

Ninguém saiu pela porta dos fundos, sem se fazer notar.

Mesmo nós não estando presentes, eu sinto a presença de ninguém aqui comigo.
Não amo ninguém.

(Inspirado em Neruda)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Salvar o príncipe



O príncipe vai de mal a pior. Nada na sua vida tem dado certo ultimamente. Ele continua se envolvendo com as pessoas erradas, que só sabem magoá-lo. Parece que ninguém mais o entende. Ele está enredado em relacionamentos sem futuro, preso ao passado, com pessoas que não se importam verdadeiramente com ele e que não sabem reconhecer o seu verdadeiro valor. A vida dele desmorona, enquanto sua felicidade fica para depois.

Enquanto isso, sua verdadeira princesa só olha. Observa com olhos atentos o príncipe indo pro fundo do poço. Talvez seja isso. Talvez ele precise chegar ao fundo do poço para poder se levantar. A princesa está angustiada, louca para pegá-lo pela mão e ajudá-lo a se levantar.

A princesa não vê a hora de entrar em cena e resolver os problemas do príncipe. Ela está ansiosa para lhe ensinar como a vida funciona, como lidar com as pessoas, como sentir as coisas certas no momento certo, quais palavras dizer... A princesa conta cada minuto, sofre cada segundo, dói a cada centésimo de segundo, só esperando a hora de poder salvar o príncipe.

domingo, 19 de setembro de 2010

Princesa X Príncipe



Se a princesa tem dúvidas, é porque precisa de respostas. Se o príncipe é incapaz de esclarecê-las, ela não tem culpa. Se ele não sabe as respostas, não existe conto de fadas.

Se o príncipe não sabe pedir desculpas, a princesa nada pode fazer. No conto de fadas pós-moderno, a princesa deleta o príncipe do MSN.

Claro, como não poderia ser diferente, a princesa segue em frente e vai em busca de um novo príncipe, um definitivo, que nunca volte a ser sapo novamente. E o príncipe vai continuar lamentando por um tempo. Vai sim. Até porque praga de princesa nada difere de praga de ex.

No capítulo anterior, escrevi que o príncipe era burocrático. Na verdade, príncipe e princesa são assim. Eles gostam de regras. A diferença é que ele adora segui-las e ela adora quebrá-las.

sábado, 18 de setembro de 2010

Escrevendo mentiras



Escrever sempre ajuda. É muito bom escrever. Até me arrisco a dizer que escrever resolve tudo, qualquer problema, dor, dúvida ou tristeza.

É bom colocar o que a gente sente pra fora. E é só colocando pra fora que a gente se pergunta porque estávamos guardando tudo aquilo. Quando tudo parecer perdido, quando não encontrarmos mais saída, quando a angústia parecer tomar conta, só nos resta ir ao encontro das palavras.

Escrever é tipo o nosso “último recurso”. É o que nos resta, quando as coisas estão dando errado. É a nossa salvação.

Mas e onde entra a verdade nisso tudo? Aí é que está a questão. Quem disse que somos obrigados a escrever coisas sinceras? As palavras são sempre sinceras, mas a ordem ou seqüência que damos a elas, nem sempre. Nós precisamos é ser sinceros com a gente mesmo e mais ninguém. Quando escrevemos, somos livres pra criar, fantasiar, imaginar, supor, brincar, rimar, embutir mensagens subliminares...

Tudo bem que eu prefira e defenda a sinceridade permanente, mas isso nem sempre é possível. Como eu disse, escrever é pra ajudar. E quem sabe escrevendo mentiras a gente não entenda melhor a verdade? Escrever mentiras pode nos ajudar a lidar com a verdade, nos faz refletir melhor, sem grandes obrigações. De repente, escrever como deveria ter sido e não foi, pode nos ajudar a fazer o certo futuramente.

Quando as coisas estão erradas, só conseguimos pensar no que deu errado, como corrigir, o que fazer... É difícil evitar esses pensamentos. Se resolvermos colocar isso no papel, colocar pra fora, aí não é mais nosso, não nos pertence mais. Vai embora. Dá a oportunidade para surgirem coisas novas. Que venham!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pássaros noturnos 3



Pássaros noturnos e Pássaros noturnos 2

Noite de trilogia! Ouço os sabiás novamente. Mais um pouco e eu vou ficar mal acostumada. Já está quase amanhecendo e eu passei a noite escrevendo, acompanhada por essa agradável trilha sonora.

Me sinto privilegiada. Fico pensando naquelas pessoas que não conseguem dormir e ficam rolando na cama. Ou naquelas que escrevem no silêncio ensurdecedor da madrugada. Ou, ainda, naquelas que ouvem de fundo os ruídos de uma rua movimentada. Ou, por último, naquelas pessoas em que o único som da noite é o latido de animais tão inquietos quanto elas.

Iluminada pela luz do note e inspirada pelo som dos passarinhos, nem percebi a hora passar. As idéias foram surgindo lentamente, levemente, sem pressa, como quem não quer nada, quase organizadas, “redondinhas”. Aos meus dedos, só cabia a árdua tarefa de digitá-las no Documento1 do Word.

Daqui a pouco a cidade se acende, liga os seus ruídos, começa a sua rotina frenética. Daqui a pouco esses passarinhos irão parar de cantar. E mesmo se continuassem cantando, não conseguiriam ser ouvidos. Só a noite é capaz de nos dar essa liberdade. Talvez só a noite é que consigamos de fato nos expressar por completo. Talvez só de noite consigamos fazer com que coração e razão se entendam.

São dois pássaros. Um canta, o outro ouve. Depois trocam e ficam nesse revezamento. Não me perguntem como, mas eu sei. Eles estão conversando. Compartilhando momentos. Surpreendendo-se mutuamente. Colocando pra fora suas agruras. O canto é o texto dos pássaros. Tenho certeza. Aliás, hoje eu só tenho certezas.

Eles são insistentes, persistentes, quase teimosos. Cantam sem saber se estão sendo ouvidos ou não. Cantam somente com esperança. Cantam com o coração aberto. Cantam seu melhor repertório, sem medo de que seja em vão. Simplesmente fazem o que acham certo da melhor forma possível. Cantam sabendo que o dia já está chegando para interromper sua voz, mas mesmo assim não deixam de cantar.

Esses pássaros, que tanto me ensinam.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Courage, by Orianthi


Pegue as minhas palavras viciosas
E transforme-as em algo bom
Pegue meus preconceitos
E deixe a verdade ser entendida

Pegue todas as minhas posses preciosas
Deixe apenas o que eu preciso
Pegue todas as minhas dúvidas
E deixe-me ser o que está embaixo

Coragem é quando você está com medo,
Mas você continua em frente de qualquer jeito
Coragem é quando você está com dor,
Mas você continua vivendo de qualquer jeito

Todos temos desculpas por que
Algo em nós morre quando estamos com medo
Como um pássaro com asas quebradas
Não é o quão alto ele voa,
Mas a canção que ele canta

Coragem é quando você está com medo,
Mas você continua em frente de qualquer jeito
Coragem é quando você está com dor,
Mas você continua vivendo de qualquer jeito

Não é quantas vezes você foi
Derrubada
É quantas vezes você dá a volta por cima

Coragem é quando você perdeu seu caminho,
Mas você encontra a sua força de qualquer maneira
Coragem é quando você está com medo
Coragem é quando tudo parece cinzento
Coragem é quando você faz uma mudança,

E você continua vivendo de qualquer maneira
Você continua em frente de qualquer jeito
Você continua a dar de qualquer maneira
Você continua a amar de qualquer maneira

(Da série "coisas que eu poderia ter escrito")

sábado, 4 de setembro de 2010

Segredo



Mexendo aqui no computador, acabei encontrando umas fotos dele. Meu deus! Como pode ser tão lindo assim? Eu estava jurando que já o tinha esquecido, mas depois dessa... Tô perdida! Lembrei de tudo, de cada segundo, de cada palavra, de cada toque, de cada olhar, de cada diálogo... Por essa eu não espera! Não estava nos meus planos reaver todos esses sentimentos. Coisas da vida. Peça pregada pelo destino. Por que por mais que eu ande na direção oposta, o destino põe ele bem na minha frente, na minha tela, na minha vida? Esse tal de destino é safado!

Olho para aquela foto e não consigo mais tirar meus olhos dela. Impossível desgrudar. Quanta ironia! Logo ele, que me ajudou a manter a sanidade em certos momentos, agora consegue me enlouquecer. É isso. Estou ficando louca. Estou indefesa. Baixei a guarda. Só consigo contemplá-lo.

Ele enche meus olhos, prende a minha atenção, sossega o meu coração, acalma a minha respiração. Me atrai, me chama.

Eu o observo. Por completo. Com a minúcia dos anjos. Cada centímetro de pele. Cada contração de músculo. Cada parte do seu corpo. Cada traço da sua expressão. Quase consigo ler seus pensamentos. Tenho a leve impressão de que vejo a sua alma. Por muito pouco não sinto o seu cheiro.

Mas o que mais me chamou atenção mesmo foi o seu sorriso. Por favor! Isso não é justo comigo! Estou admirando o sorriso mais lindo do mundo. Sem tirar nem pôr. Sem exagero. Sem brincadeiras. Seu sorriso é de uma beleza de calar os olhos. É a imagem mais contagiante que já vi. Extremamente encantador. É até encorajador. Alegre, puro, simples. Feliz, imensamente feliz. Insuportavelmente feliz.

Um sorriso que me faz esquecer os problemas. Um sorriso que me tira o chão. Que me faz faltar o ar, que me estremece. Que quase dói de tão perfeito.

Até agora só fiquei tentando achar palavras para descrever esse sorriso. Mas não as tenho. Troco qualquer palavra por esse sorriso. Agora, nada mais me importa.

Um sorriso que me excita. Me conforta. Me conserta. Me ama. Que me faz crer numa vida melhor. Que penetra no meu corpo, mexe com o meu coração, percorre cada pedacinho meu.

Um sorriso que é meu. Que me pertence. Um sorriso sincero. Leve. Espontâneo. Gostoso. Contundente. Arrebatador. Um sorriso que fixa o meu olhar, que me fascina. Que tira a minha paz. Que me corrompe. E que é capaz de me convencer de qualquer coisa. Um sorriso que me leva fácil. Que tira meu sossego. Que me hipnotiza. Que me pede um beijo. Um sorriso que eu quero para sempre.

E a Monalisa que me desculpe. Mas arte mesmo, é o sorriso dele.

Pássaros noturnos 2



Simplesmente não consigo acreditar que os estou escutando de novo. Eles voltaram. Lá estão eles cantando novamente. Será para mim? Não, não. Besteira minha. Como podem saber exatamente qual o momento certo de aparecerem aqui? Como adivinharam que eu estava precisando? Me pergunto de novo: será um presente especial enviado para mim? Será, será? Não sei. Mas é maravilhosa essa sintonia com o universo.

Hoje choveu o dia inteiro e ainda não parou. A noite chegou e eu, em silêncio, nem percebi. Deve ser mais uma daquelas noites em que não consigo pegar no sono. Qual não foi a minha surpresa de notar, aos poucos, uma doce e alegre melodia chegando até mim. Os pássaros estavam cantando mais alto do que o barulho da chuva. Isso não pode ser por acaso! Deve ser um sinal. Não tenho dúvidas. É a minha metáfora da noite.

Mesmo com toda a tempestade, a desordem nunca vai ressoar mais que uma agradável melodia. Quando há harmonia, o ruído sempre fica em segundo plano. A turbulência jamais será maior que a mais bela das composições. Essa é mensagem. Esse é o significado que me faltava. Esse é o aprendizado do dia. Ou da noite, as horas já não me importam mais. Aquilo que encanta, que nos enobrece, sempre deve soar mais alto que qualquer adversidade.

Além do mais, os passarinhos estão cantando em conjunto. Isso me faz pensar que, talvez, se fosse um só, eu não conseguiria escutá-los. A chuva iria esconder suas canções. Sozinho não se vence tempestades. O passarinho precisa de uma companhia para ganhar voz, fazer eco e criar sentido. Somente junto com alguém da sua espécie é que ele pode fazer diferença. E eu acho que assim ganhei a minha segunda metáfora da noite. É preciso cantar em dupla. É preciso afinação, sintonia. Só assim é possível nascer algo consistente. Um pássaro solitário jamais conseguiria tão bela melodia.

Eles cantando a felicidade aos quatro cantos, me deixam na obrigação de ser feliz também. Impossível não ser.