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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pássaros noturnos



Ouço passarinhos cantando perto da minha janela todas as madrugadas. Seus pios ecoam noite a fora embalando o sono de muita gente, enquanto servem de trilha sonora para as minhas noites insones. Ao ouvi-los cantar, fico pensando que talvez eu não seja a única que tenha necessidade de ficar acordada até tarde. Talvez eles também esperem alguma coisa de uma noite mal dormida.

Enquanto eles cantam, eu escrevo. Queria saber escrever algo a altura de suas melodias, queria que eles pudessem me ler com a clareza e a admiração com que eu os escuto. Pelo menos me consola não ser a única alma inquieta numa noite calma. Eles servem de inspiração, de incentivo. Afinal, estamos fazendo o que gostamos de fazer, simultaneamente. Trabalhamos em conjunto. Ambos quebramos o silêncio, eles com cantorias, eu com palavras. Ambas atividades tranqüilizadoras. No mínimo, simbólico.

De tantos lugares para se estar nessa noite amena, eles estão aqui, ao meu lado. Me fazem companhia, como se soubessem que eu precisasse. Talvez eles cantem por estarem angustiados. Aliás, notando bem, agora me pareceu ser um canto aflito, carregado de desgosto, reclamações e tristeza. Coisa boa deve ser poder cantar as tristezas, colocar pra fora tudo o que nos incomoda. E nada como a noite para fazer isso.

Talvez o passarinho lamente a perda de sua amada. Talvez ele cante um amor perdido, uma dor de cotovelo, uma dor de amor. Talvez ele esteja compondo. Talvez ele esteja ensaiando para declarar-se à sua amada. Talvez esteja se preparando para dizer tudo o que sente para a passarinha mais bonita do céu de Porto Alegre.

Ele poderia estar voando essa noite. Mas talvez não seja uma boa noite para voar, pois o tempo está nublado e não tem estrelas. Não seria um bom clichê.

Talvez o passarinho não goste de silêncio. Talvez ele seja um presente especial enviado para mim, de uma pessoa que sabe que eu não consigo mais dormir direito. Talvez ele seja simplesmente uma consciência pesada que precise desabafar. Talvez ele já cante o amanhecer e o que eu esteja ouvindo seja um bom-dia.

Agora já não os ouço mais. Talvez seja hora de dormir.

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