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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não (ou sim)



Bateram na porta da minha casa que eu não tenho,
e eu não estava.
Não tinha ninguém.
Ninguém entrou e sentou-se numa cadeira imaginária
e não conversou comigo como ninguém.

Jamais me esquecerei daquela ausência,
que tanto não discutiu comigo aquela carência de sentimentos.
Eu simplesmente não sabia mais de nada,
estava com um vazio aberto a tudo.

Aquela inexistência toda mexia com a minha essência.
Como me fazer presente? Como te dar um presente?
Estava faltando algo à minha existência.
Esse afastamento, essa distância me deixou sem chão.
Minha falta de ar só aumentava quando não te via.
Meu caminho estava perdido.
Próxima parada: sem rumo!
Disse isso tudo pra ninguém me ouvir.

Ninguém me escutou atentamente.
Depois ninguém me interrogou sem dizer nada
e eu contestei sem ver e sem falar.

Eu esqueço ninguém sem querer esquecer.
Eu não consigo esquecer ninguém nem quando ninguém esqueço.
Quero esquecer que quero esquecer ninguém.
Quero esquecer que não esqueci ninguém.

Ninguém saiu pela porta dos fundos, sem se fazer notar.

Mesmo nós não estando presentes, eu sinto a presença de ninguém aqui comigo.
Não amo ninguém.

(Inspirado em Neruda)

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