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sábado, 25 de dezembro de 2010

Sempre igual



Todo final de ano é a mesma coisa. É sair pra comprar presentes de última hora e enfrentar filas desumanas nos shoppings. É arrumar briga nos estacionamentos por causa de vaga. É reunir a família pra comemorar uma data que ninguém sabe direito o que é. É quase querer desistir da vida com a programação de fim de ano da TV.

E reunir a família é sempre a mesma coisa. Parentes distantes que deveriam continuar distantes. Aquela gente que parece que se reúne só pra reclamar da vida, fazendo um verdadeiro campeonato de desgraças, cada um querendo fazer o papel de vítima protagonista. Tudo isso, fora aqueles presentes que só vão ocupar espaço em nossas vidas, pois nunca chegarão a ser utilizados.

O natal tem seus personagens típicos e eu não estou falando do Papai Noel, do Jesus Cristo ou do Roberto Carlos. Me refiro à tia que sempre dá aqueles presentes de deixar qualquer um com vergonha. Ela esquece que às vezes a gente só quer um presente normal, que não precisa ser nada criativo. Me refiro ao pai, que sempre ganha meias ou cuecas, como se essas fossem as únicas necessidades de um homem. Me refiro também ao tio que enche a cara e começa a falar “verdades”. Confesso que esse é o meu personagem preferido, contanto que ele não se lembre da minha existência. O tio faz o papel que nunca temos coragem de assumir, traduzindo os nossos pensamentos inescrupulosos em palavras que sóbrios jamais conseguiríamos pronunciar. Ele usa o álcool como facilitador social e não sofre sansão alguma. Eu quase conseguiria sentir inveja, se a situação não fosse tão medíocre. Até acho que todo mundo passa a “mão por cima” desse tio porque, no fundo no fundo, o seu desabafo é o mesmo desabafo de qualquer um presente na festa de natal.

Todo natal é aquela champanhe meia-boca, aquele calor senegalês cada vez pior (maldito aquecimento global!), aquele amigo secreto que nunca conseguiu ser realmente secreto. Todo natal são desenterradas aquelas musiquinhas-que-nunca-deveriam-ter-sido-gravadas e que grudam na cabeça da pobre criatura, sem contar o parente que sempre ressuscita o cd da Simone. Todo natal as mães se reúnem pra exibir e comparar seus filhos aos das outras e, de quebra, falar mal de mães alheias. Todo natal as pessoas comem dizendo – da boca pra fora – que não deveriam comer tanto, mas sempre dão panetones de presente.

Acho que é isso: o natal é a festa da “boca pra fora”, a celebração máxima da hipocrisia. É quando começam a surgir todas aquelas promessas-que-vão-mudar-a-sua-vida para o ano novo, mas que não vão passar da ressaca do réveillon.

E o mais engraçado de tudo isso? Todo mundo sabe e concorda com as coisas que eu disse e mesmo assim não faz nada para mudar. É essa perpetuação da hipocrisia que me incomoda. Por que ninguém dá o primeiro passo pra modificar essa situação? O que mantém as pessoas nessa inércia de final de ano? Será que todos só reclamam da boca pra fora?

Acho que é medo de assumir que o ano não foi como pretendíamos, que fracassamos na realização dos nossos sonhos. É muito mais fácil seguir o ritmo que mudar o andar da carruagem.

Com certeza podemos ser pessoas melhores. Mas pra isso é preciso ação. Cabe a cada um fazer acontecer.

#porumnatalsemhipocrisia

Um comentário:

  1. Belo post. Concordo plenamente. Eu começo fazendo a minha parte NÃO COMEMORANDO o Natal, não dando nem aceitando presentes. Como disse um sujeito esses dias, os cristãos deturparam as saturnálias e criaram o Natal, e os capitalistas deturparam o Natal e criaram o Papai Noel. Tudo se resume a hipocrisia e consumismo, duas coisas das quais tenho asco.

    Beijo,
    Ramiro
    http://abstraindoarealidade.wordpress.com/

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