“Hoje faz quatro meses, dezoito dias e mais ou menos umas
seis horas que nosso relacionamento acabou. Não tenho nome, perdi a identidade.
E, junto com ela, se foi a minha felicidade. Não mais vivo, somente sobrevivo.
Carrego uma dor profunda, que parece não ter fim. Choro todos os dias baixinho
no travesseiro. Tomo antidepressivos de seis em seis horas, todos os dias
também. Eu sei, posso parecer chorona. Enganam-se. Sou uma mulher como todas as
outras.
Não consigo me concentrar em nada, não gosto mais de nada,
nada mais me satisfaz. Perdi a fome, o sono, a alegria de viver. Perdi a fé, a
confiança, a felicidade das coisas pequenas. Perdi a razão, a sanidade. Rezo
para não perder a cabeça. De tanto olhar pro indefinido, acho que perdi o foco.
Não culpo ninguém. Nem ele. Nem ela. Também já não me culpo
mais. Nada faz sentido mesmo. Me sinto excluída de tudo. Acho que ninguém sente
a minha falta. Mas eu sinto a falta de alguém. Esse é exatamente o problema:
sinto falta de alguém. A vida é um esporte coletivo, não dá pra jogar sozinha.
Tenho a impressão que roubaram o meu coração, pois só o que
consigo sentir é um vazio no peito. Minto. Também consigo sentir muita dor.
Parece que estou sofrendo de uma fratura exposta. To vendo tudo ali,
destroçado, mas não posso fazer nada. Dói feito a morte, se é que a morte dói
tanto.
Por outro lado, estou começando a pensar se tem remédio que
conserte, se vou conseguir voltar a ser a mesma de antigamente, se conseguirei
tocar a vida sem me sentir aleijada. To começando a achar que esse vazio não me
serve mais. Então escrevo, pra exorcizar esses demônios”.
Nenhum vazio é tamanho que não possa ser preenchido.
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