Já escrevi sobre todas as formas de amor, já escrevi sobre
uma nova forma de amor, mas hoje escrevo sobre morte. Porque todo amor exige um
pouco de suicídio.
Amor e morte têm tudo a ver. Amor de fazer faltar o ar,
morte. Morrer de prazer, morte. Crime passional, morte. Tentação, diabo,
inferno, morte. Se sentir no céu, já está morto. Além disso, num relacionamento é
preciso suicidar todos os medos, todas as inseguranças; é preciso esfaquear o
ego para poder fazer a relação funcionar – ou sobreviver, como queiram.
Mas é só um relacionamento acabar, que a morte abre um
sorriso malicioso, porque ela sabe que vai vir muito sofrimento pela frente e que
teremos tanto vontade de morrer quanto de matar. A partir do término de
um relacionamento, a morte ganha nossa confiança e credibilidade, se tornando
nossa melhor amiga, aquela que está presente em quase todos os momentos. A
morte permanece, e a gente perece. Ela se torna onipresente, praticamente
sufocante. Sufocamento, morte.
A morte faz visitas constantes, entre em nossa casa sem
pedir licença, abre a geladeira e serve-se do melhor. Tão audaz, a morte! Mata
a confiança dos outros e a pega para si. A morte não morre. A morte dói, mas é sempre sábia.
Quando a relação morre, a gente vai morrendo junto. Uma
morte calma, dolorosa e cheia de sofrimento. Depois, pensamos na morte do
outro. Quem nunca quis que o ex morresse que atire a primeira pedra – mas não
para matar. A morte dele só facilitaria as coisas. Morto, ele não continuaria a
nos dar alguma esperança de reconciliação. Morto, não existiria a possibilidade de ele se desculpar como
tanto esperamos. Morto, ele não andaria sorridente com outra por aí. Se ele
morresse, seríamos nós que descansaríamos em paz.
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