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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O fim e a morte



 
Já escrevi sobre todas as formas de amor, já escrevi sobre uma nova forma de amor, mas hoje escrevo sobre morte. Porque todo amor exige um pouco de suicídio.

Amor e morte têm tudo a ver. Amor de fazer faltar o ar, morte. Morrer de prazer, morte. Crime passional, morte. Tentação, diabo, inferno, morte. Se sentir no céu, já está morto. Além disso, num relacionamento é preciso suicidar todos os medos, todas as inseguranças; é preciso esfaquear o ego para poder fazer a relação funcionar – ou sobreviver, como queiram.

Mas é só um relacionamento acabar, que a morte abre um sorriso malicioso, porque ela sabe que vai vir muito sofrimento pela frente e que teremos tanto vontade de morrer quanto de matar. A partir do término de um relacionamento, a morte ganha nossa confiança e credibilidade, se tornando nossa melhor amiga, aquela que está presente em quase todos os momentos. A morte permanece, e a gente perece. Ela se torna onipresente, praticamente sufocante. Sufocamento, morte.

A morte faz visitas constantes, entre em nossa casa sem pedir licença, abre a geladeira e serve-se do melhor. Tão audaz, a morte! Mata a confiança dos outros e a pega para si. A morte não morre. A morte dói, mas é sempre sábia.

Quando a relação morre, a gente vai morrendo junto. Uma morte calma, dolorosa e cheia de sofrimento. Depois, pensamos na morte do outro. Quem nunca quis que o ex morresse que atire a primeira pedra – mas não para matar. A morte dele só facilitaria as coisas. Morto, ele não continuaria a nos dar alguma esperança de reconciliação. Morto, não existiria a possibilidade de ele se desculpar como tanto esperamos. Morto, ele não andaria sorridente com outra por aí. Se ele morresse, seríamos nós que descansaríamos em paz.

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