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terça-feira, 4 de maio de 2010

Legendas da vida real



Eu prefiro filme legendado. Esses dias comprei ingresso pra sessão da meia-noite e vinte só pra ver a versão com legendas. O original é sempre melhor, sem dúvidas. A dublagem não passa de uma adaptação, uma reinterpretação. Nela, se perdem o tom de voz, o sarcasmo, a fina ironia, as interjeições, os suspiros. Fica sem emoção, sem vida. Fica muito sessão da tarde, sem magia. A legenda nos permite um paralelo com o que foi dito e a intenção com que se disse. Dá pra entender o que foi dito e que não foi. É a versão completa. É a leitura das entrelinhas.

Legendar é um exercício corriqueiro no nosso cotidiano: todos os dias legendamos cenas da vida real. Quando ele diz que hoje não quer sair e vai ficar em casa, logo ela entende como “ele tem outra”. Quando ele não manda uma mensagem de bom dia, ela entende como “não me ama mais”. Nós mulheres somos fiéis adeptas das legendas. Sabemos usar as palavras como ninguém: “dizemos uma coisa para dizer exatamente outra”.

Quem não gosta de legendas, é porque não consegue acompanhar o ritmo original das coisas. É aquele que quer facilitar a vida, como se houvesse real vantagem nisso. O bom de viver está nas pequenas coisas, não exatamente na palavra proferida, mas naquele olhar que diz tudo. Um olhar traduz a intensidade do que foi dito. O tom de voz indica a intenção do que se quer dizer. São as legendas da vida real.

Um comentário:

  1. Ainda que seja um exercício corriqueiro, a legenda da vida real não é pra qualquer um. Requer uma certa vivência.

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