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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Beijo roubado



"Era uma vez um beijo. Ele andava por aí, como um sujeito distraído, só esperando o momento de ser correspondido. Ele carregava consigo toda a magia do amor e já não estava mais conseguindo suportar essa imensidão: precisava compartilhar. Como todos sabem, o beijo é uma das únicas coisas no mundo que precisam de, no mínimo, duas pessoas para acontecer. 

O beijo, então, concluiu que faltava definição em sua vida. Todos os seus amigos, os outros beijos, já tinham adquirido personalidade própria. O cinematográfico, como se auto-intitulava, gostava de fazer cena; o Selinho, como era chamado, era discreto. Mas o beijo em questão, não tinha o glamour do primeiro, nem a timidez do segundo, por exemplo. Esse beijo era mais atrevido, por isso escolheu “Roubado” para ser seu sobrenome. 

Assim, só faltava uma oportunidade para o beijo fazer jus a sua identidade. Dessa forma, o Sr. Beijo Roubado tomou a decisão de correr atrás da realização do seu desejo e saiu a procurar quem retribuísse os sentimentos que guardava. Não demorou muito, ele encontrou seu destino".

O beijo roubado é aquele beijo que conserta a briga. Que quando a gente menos espera suscita a fagulha da paixão, que até então parecia apagada pelo orgulho. Aquele beijo gostoso, que abre o apetite, que começa aquela sensação de excitação, que acende o fogo brando do amor. Aquele beijo inesperado, que surpreende nossa respiração, que amolece nosso coração, que nos faz imensamente feliz. Um beijo que traduz o sentimento. Um beijo que cala as palavras bobas, um beijo que declara todo o seu amor. Um beijo que acelera o coração e enlouquece a razão. 

O beijo roubado é um beijo que não conseguiu ficar guardado e teve que extrapolar o comedimento do bom senso. É um beijo que traduz a vontade de estar perto do outro. É um beijo rebelde, que gosta de correr riscos, que não se deixa abater por qualquer ressalva. Um beijo que faz a gente se sentir único no universo e que hipnotiza nossos sentidos. Um beijo que desperta o âmago do nosso desejo, que arrepia do dedão do pé até a ponta do mais distante fio de cabelo, que percorre cada centímetro da nossa pele. 

Um beijo que faz o mundo girar mais devagar, que congela o formigamento do corpo para eternizar o momento. Um beijo oportunista, safado. Um beijo que abre portas para uma enxurrada de sensações deliciosas, que acende o fogo morto que habita nossos corações. Um beijo que transborda a fugacidade do amor.

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