Páginas

domingo, 27 de junho de 2010

Anonimato



O que faz uma pessoa querer ser anônima, num mundo em que cada vez mais a exposição é a razão de existir? O que temos medo de revelar? O que tanto queremos esconder?

Tudo gira em torno de relacionamentos (como a maior parte dos textos aqui no blog). É um ciclo vicioso. Relacionamento gera medo que gera anonimato que (nem sempre) pode gerar um relacionamento.

Dificilmente alguém se revela por completo. Tudo culpa dessa exposição exacerbada, que acaba criando certos padrões, inibindo o nosso “verdadeiro eu”. Por isso, sempre acabamos escondendo algo, por mais bobo que seja. E muitas vezes, na tentativa de ocultar alguma coisa, pode surgir uma mentira. (Mentira: substantivo abstrato de mão-dupla. Ex: a mentira nunca é só para o outro; ao mentir, afetamos diretamente, no mínimo, duas pessoas: o outro e nós mesmos). Mas isso é outro assunto.

O anonimato sempre existiu. Muitas vezes esteve ligado à política, mas nunca deixou de se fazer presente nos relacionamentos. Antigamente, os homens, sempre mui cavalheiros, mandavam declarações apaixonadas anonimamente às suas amadas mocinhas. Hoje, pode-se muito bem criar uma conta de e-mail com nome fictício para corresponder-se com a querida. O que mudou foi o meio; o anonimato continua aí.

E conforme vai crescendo essa necessidade de exposição, paradoxalmente vai aumentando o medo de se expor. Dessa forma, quem quer revelar seus sentimentos, precisa viver uma série de dúvidas, além de um indesejável sofrimento. Essas incertezas estão ligadas ao medo. O que será que ela vai pensar de mim? Será que é recíproco? O que os outros vão achar? Será que devo assumir? E onde fica a vontade de sumir? Tudo passa pela necessidade de aceitação, seja lá de quem.

E só somos anônimos por causa dessa necessidade. Enquanto não nos livrarmos de certos preconceitos, ou enquanto a insegurança falar mais alto, infelizmente, não seremos pessoas plenas. Continuaremos a criar perfis fakes seja qual for a rede social e prosseguiremos monitorando a pessoa “à distância”. Investigaremos cada traço da exposição alheia, sem nos expor.

Anonimato é mais do que não revelar a assinatura, é falta de exposição. É nada mais que medo.

Por outro lado, ironicamente, quanto mais anônimos somos, mais facilmente somos reconhecidos. Ou seja, quem sabe ser um bom anônimo, não encontra dificuldades em identificar quem se comporta como tal. Isso acontece porque na maioria das vezes raramente o anônimo é alguém longe da gente.

Os anônimos têm uma forte de necessidade de ficar perto. Talvez esse seja um dos motivos para se manterem ocultos. O anônimo quer estar próximo, mas por inúmeros motivos, a única maneira que encontra para que isso aconteça é não revelando seu nome. Tão perto e tão longe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário