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domingo, 13 de março de 2011

Coração sabe-tudo


Num belo dia, numa despedida qualquer, meio sem querer, ele disse que queria falar comigo. Eu já tinha em mente que um dia isso poderia acontecer, até já tinha ensaiado umas mil respostas para dar, mas naquele momento só saiu um “não tenho nada pra falar contigo”.

No que eu me distanciava, ele, numa espécie de última tentativa, disse, precisando aumentar o tom de voz:
- Eu vou escrever um livro chamado “As mulheres que me levaram à ruína” e tu vai estar no prefácio!
Diante àquela provocação, eu, que não tinha nada pra falar, que não queria falar nada, mas que também não leva desaforo pra casa, me obriguei a responder e acabei entrando na brincadeira.
- Como assim, no prefácio? Tem gente que acha que nem precisa ler o prefácio de um livro! Tem gente que pula direto pro primeiro capítulo! Eu quero um capítulo especial, eu quero um capítulo muito bem escrito. Eu quero um capítulo com páginas de cor diferente, com destaque. Não, não! Eu não quero uma história misturada com as tuas ex. Eu quero um livro só meu. Eu quero um livro só pra mim. Eu quero que tu escrevas só pra mim!

Quando finalmente cessei aquele desabafo descontrolado, ele me olhava admirado. Enquanto eu ainda digeria as palavras que acabara de proferir, tentei advinhar o que ele estaria pensando. Lá estávamos, nós dois, um olhando o outro, quase em transe. Lá estava aquele olhar encantador, me encantando mais uma vez. Lá estávamos nós, nos entendendo novamente. Lá estava ele, escrevendo sobre mim com o olhar, mas dessa vez sem nenhuma relação com ruínas ou qualquer tipo de destruição. Pelo o que pude ler em seus olhos, acho que era alguma história envolvendo amor.

Embora as palavras não fossem mais necessárias naquele momento, meu coração se atreveu a pronunciar uma frase em tom de desculpas. “Eu nunca quis levar à ruína. Eu quero te levar pro céu”. Logo eu, que não tinha nada pra falar.

Quando não temos nada pra dizer, é melhor deixar o coração se expressar que tudo fica certo.

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