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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Príncipe Shrek




Devido aos inúmeros contos de fadas que ouvimos na infância, de tanto suspirarmos pelos príncipes com suas infindáveis qualidades, de tanto invejarmos as princesas – seja pela sua colossal beleza, seu elevado status social, suas elegantes roupas, seja pelo seu grandioso castelo – nós mulheres adquirimos o hábito de sonhar com um príncipe encantado.

O conto de fadas nos seduz de tal forma, que somos tomadas por uma vontade desmedida de transformar nossa irrelevante existência em uma dessas histórias mágicas. Passamos muito tempo imaginando nossas vidas com esse homem maravilhoso, cheio de virtudes. Todas fantasiamos com o príncipe bonitão, charmoso por natureza, que esbanja simpatia, está sempre de bom-humor, é atencioso com todos os seus súditos, não bebe, não possui vícios, entre outros inúmeros valores. Não existe mal nenhum em sonhar com uma pessoa assim; só não podemos esquecer que ela simplesmente não existe.

Por tabela, vale lembrar também que não somos nenhuma princesa – apesar da comparação ser inevitável. Em alguns momentos até podemos nos parecer com ela, mas são apenas em alguns momentos, com muito esforço, maquiagem, sapatos caros, dias sem comer e muita força de vontade. Não é a toa que gostamos muito quando somos tratadas como princesas.

O desejo de viver uma vida como a que lemos nessas histórias é tamanho, que muitas vezes quando nos apaixonamos por alguém nem tão bonito assim, nem tão legal assim, nem tão honrado assim, logo o classificamos como sapo. E essa história conhecemos muito bem: todo sapo é, no fundo, um príncipe em potencial. É a mania feminina insuportável de querer consertar tudo e todos.

Não podemos idealizar uma pessoa, muito menos nossos possíveis parceiros. Ninguém é príncipe. Simples assim. Pode ser uma visão triste, pessimista e até mesmo desencorajadora da vida, mas é real, assim como devem ser os nossos relacionamentos. Não devemos dar espaço para falsas expectativas. O nosso par, dificilmente, vai reunir todas as características que tanto desejamos. Ele não vai ser o cara mais bonito da cidade. O charme pode ser uma característica irreconhecível nele. A simpatia não será tão evidente. O bom-humor vai depender muito de como ele acordou. Vai levar uma vida de súdito, provavelmente. Vai voltar bêbado para casa muitas vezes. Vai vomitar na nossa frente outras tantas. Certamente nos trocará por qualquer jogo de futebol. Se dermos sorte, não vai ter vícios tão prejudiciais à saúde. Isso, entre tantas outras “normalidades”, que todos nós temos.

Pessoas perfeitas não existem. Os príncipes e princesas encantadas também não. Apesar de tentarmos disfarçar, os defeitos são inerentes à condição humana. Nem todos os nossos sentimentos são tão sublimes. Por isso eu penso que, em vez de irmos atrás de um príncipe, temos que ir a busca de um Shrek. O verdinho não é nenhum modelo de beleza, é desajeitado, rabugento, vive no pântano, se esforça para ser sociável, tem amigos estranhos, vive tomando decisões erradas e se mete em encrenca com muita facilidade. O Shrek nos faz lembrar que todos temos um pouco de ogro na nossa personalidade, que temos erros e acertos. Ele está “tão tão distante” de ser uma criatura perfeita. Ele é... normal.

Contudo, o principal não falta: ama de verdade a mulher que escolheu. O verdadeiro príncipe é o Shrek.

4 comentários:

  1. Com toda a certeza (sim, homens tem certeza de algumas coisas) esse é um dos melhores textos que já li aqui.

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  2. Heheheheh que bom! Mas tu é suspeito pra falar! =D

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  3. E não é pelo teu aniversário :p

    Aliás, parabéns :D

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  4. Na verdade, essa busca por alguém encantado, é a busca por algo que temos dentro de nós.... Alguém a quem possa honrar, e se declarar, e em seus límpidos olhos lavar a alma... é a necessidade de ser compreendido... tão universal quanto a dor. Adoraria poder dizer a ela “você acertou o pulo quando me encontrou”, e receber a resposta em contrasenha. Mas posso tão somente convidá-la a ler este humillde texto. E procurar não esperar nada em troca. Cada menina carrega em si o arquétipo da Vênus dourada. E cada homem desencaminhado incorre na ilusão de enxergar nela, sua bem-amada. Sou só mais um.

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