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terça-feira, 5 de julho de 2011

Ensinamentos do fundo do poço




Olá,
estou escrevendo do fundo do poço. Resolvi mandar notícias minhas, a quem possa interessar. Foi um longo trajeto até chegar aqui, foram momentos muito árduos, mas não vem ao caso. Aliás, poucas coisas vêm ao caso aqui no fundo do poço e é disso que pretendo falar. Hoje, me sinto melhor.

Nesse tempo todo que passei presa aqui em baixo aprendi muitas coisas que gostaria de compartilhar. Primeiro, o fundo do poço é muito ruim, não queiram vir pra cá, de jeito nenhum. Aqui não tem sol e o clima é bastante frio. Também reina um silêncio muito triste e o ar é difícil. Por isso lhes digo, nem a maior das alegrias vale uma descida no inferno.

Não se tem muito o que fazer aqui no fundo do poço. As minhas atividades se alternam basicamente entre olhar para as paredes e cochilar. O problema maior é a noite, gélida e silenciosa, sempre bastante incômoda. Aqui, preciso dormir abraçada toda a noite com a solidão – e isso não é nada bom.

Mas não pensem que o fundo do poço não tem lá suas vantagens, basta saber vê-las. Uma temporada aqui embaixo pode trazer muitos ensinamentos. Por exemplo, foi olhando para as paredes que eu aprendi uma maneira de subir. Assim, descobri que às vezes a gente só não se ergue, por não ter algo para se apoiar. Aqui, a gente também aprende a não ter medo do escuro. Isso me fez dar muito mais valor à claridade. Quando eu chegar lá cima novamente, verei a luz com outros olhos.  

No fundo do poço, a gente aprende a procurar o lado bom das coisas – e a achá-lo. Aqui, eu aprendi que um olho roxo é uma ótima oportunidade pra se ganhar um Oscar de melhor maquiagem. Aqui, o corpo, a mente e o coração são sacrificados, mas a alma se purifica. Tudo isso, porque no fundo do poço a gente pode consolar a dor pessoalmente.

Agora eu entendi o que querem dizer com é preciso cair para se levantar. Às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para aprender a se erguer. Aprendi que no fundo do poço tenho a vantagem de não poder cair mais. Daqui de baixo, a única opção é subir. E é pra lá que eu vou.

Um comentário:

  1. E é no fundo do poço que a gente descobre os verdadeiros amigos.

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