Olá,
estou escrevendo do fundo do poço.
Resolvi mandar notícias minhas, a quem possa interessar. Foi um longo trajeto
até chegar aqui, foram momentos muito árduos, mas não vem ao caso. Aliás,
poucas coisas vêm ao caso aqui no fundo do poço e é disso que pretendo falar.
Hoje, me sinto melhor.
Nesse tempo todo que passei
presa aqui em baixo aprendi muitas coisas que gostaria de compartilhar. Primeiro,
o fundo do poço é muito ruim, não queiram vir pra cá, de jeito nenhum. Aqui não
tem sol e o clima é bastante frio. Também reina um silêncio muito triste e o ar
é difícil. Por isso lhes digo, nem a maior das alegrias vale uma descida no
inferno.
Não se tem muito o que fazer
aqui no fundo do poço. As minhas atividades se alternam basicamente entre olhar
para as paredes e cochilar. O problema maior é a noite, gélida e silenciosa,
sempre bastante incômoda. Aqui, preciso dormir abraçada toda a noite com a
solidão – e isso não é nada bom.
Mas não pensem que o fundo do
poço não tem lá suas vantagens, basta saber vê-las. Uma temporada aqui embaixo
pode trazer muitos ensinamentos. Por exemplo, foi olhando para as paredes que eu
aprendi uma maneira de subir. Assim, descobri que às vezes a gente só não se
ergue, por não ter algo para se apoiar. Aqui, a gente também aprende a não ter
medo do escuro. Isso me fez dar muito mais valor à claridade. Quando eu chegar
lá cima novamente, verei a luz com outros olhos.
No fundo do poço, a gente
aprende a procurar o lado bom das coisas – e a achá-lo. Aqui, eu aprendi que um
olho roxo é uma ótima oportunidade pra se ganhar um Oscar de melhor maquiagem. Aqui,
o corpo, a mente e o coração são sacrificados, mas a alma se purifica. Tudo
isso, porque no fundo do poço a gente pode consolar a dor pessoalmente.
Agora eu entendi o que querem
dizer com é preciso cair para se levantar. Às vezes é preciso chegar ao fundo
do poço para aprender a se erguer. Aprendi que no fundo do poço tenho a
vantagem de não poder cair mais. Daqui de baixo, a única opção é subir. E é pra
lá que eu vou.
E é no fundo do poço que a gente descobre os verdadeiros amigos.
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