"Amor,
Essa carta é só pra te dizer “oi, eu estou aqui sofrendo
ainda”, só pra te lembrar que eu ainda existo. Na verdade, eu faço de conta que
existo; nós mulheres somos ótimas na arte de fingir.
Minhas palavras não tem mais a mesma eloqüência, nem as
minha idéias não são mais tão bem encadeadas. Meus textos não tem mais mesma
poesia. Desaprendi a escrever sobre conto de fadas, borboletas, felicidade...
Tô aqui pra te pedir, implorar, por favor, devolve o meu
sono. Devolve os meus dias ensolarados, me manda de volta a minha alegria de
viver. Às vezes eu tenho vontade de ir atrás de ti só pra te mostrar a conta da
farmácia. Olha aqui como os antidepressivos são caros!
Devolve a poesia que um dia existiu em mim. Não seja
egoísta. Devolve a minha vontade de seguir em frente, devolve o brilho dos meus
olhos. Ei, a minha paz também ficou por aí?
Essa carta é só pra te dizer “olha o que aconteceu
comigo, olha a pessoa que eu me tornei”. E não, meu bem, eu não sou a única
responsável pelo o que aconteceu comigo. Tu tem uma parte considerável nisso.
Se tu não quiser me devolver nada, pelos menos leva o
que sobrou aqui. Tira de mim essa angústia, essa agonia do coração. Fica com as
minhas lágrimas e com as minhas cartas suicidas. Me tira do limbo. Me tira esse
peso da alma.
Se tu não quiser me devolver, nem me tirar nada, pelo
menos me empresta. Me empresta um pouquinho de vida, se é que resta alguma por aí. Me empresta um pouquinho
de felicidade, só pra eu sentir o gostinho e lembrar como é.
Em último caso, me vende uma porção de tranqüilidade. Tô
aberta pra negócios, pago o preço que for, junto todas as minhas economias,
mendigo na rua se for preciso.
Sei lá... vem me buscar, me resgatar de mim. Me socorre,
enquanto houver chance, enquanto minhas cartas não forem obras póstumas".
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