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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A praia dos gaúchos


Nós aqui do estado mais ao sul do Brasil temos muito bom humor, porque só assim para encarar o verão do nosso litoral, que está cada vez pior. Se já não bastasse as ondas cor chocolate, o vento que por pouco não nos leva junto, a permanente bandeira vermelha e os esgotos em direção ao mar, agora também temos ataques de tubarão e inúmeras águas-vivas. Realmente, é incrível a nossa capacidade de nos maravilharmos, todos os anos, com a nossa pobre costa: é o ônus de viver em meio à prédios no asfalto.

É de praxe, passamos o ano inteiro falando mal do nosso litoral e não nos cansamos de elogiar Camburiú, Canasvieras, Costão do Santinho ou Torres (que já consideramos como parte de Santa Catarina) nem de sonhar com Jurerê Internacional, mas não vemos a hora de pegar a freeway rumo Atlântida, Capão ou Tramandaí. Se bobear, não dispensamos nem Pinhal ou Cidreira. É nessa hora que deixamos de lado o nosso espaçoso lar e não nos importamos em dividir uma casa de dois quartos com outras doze pessoas; é nessa hora também que deixamos o nosso confortável lar para dormir em colchões velhos cheirando a mofo, dividindo-o com algum familiar ou amigo que se escalar de última hora para a praia. É nessa hora que pegamos a Estrada do Mar com o carro lotado, espremidos entre as tantas bagagens que provavelmente não vamos utilizar quando chegar ao destino; mesmo estando entre cinco pessoas dentro de um único veículo, é certo que vamos ouvir reclamações a respeito do preço do pedágio, que todo ano sobe, ignorando as boas condições da estrada. É nessa hora que não nos importamos em dormir em beliches – se tivermos sorte – nem em “acampar” no quintal alheio. Se bobear de novo, dormiríamos até na casinha do salva-vidas, sem reclamar. Essa é a época em que temos que aprender a conviver com aqueles mosquitos enormes e selvagens, ávidos por sangue novo, que atormentarão nossas noites, nem que seja somente com a cantoria, no caso de não esquecermos o repelente. Os outros problemas ficarão por conta dos altos preços da vida na praia: qualquer picolé não custará menos de cinco reais, nem um almoço à la carte, menos de trinta.

Apesar desses detalhes, achamos tudo muito divertido e não vemos a hora do verão voltar. É assim todo o ano, e será exatamente assim nos próximos, caso não haja possibilidade de umas FÉRIAS (sim, com letra maiúscula) fora daqui.

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