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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Final

Que todos nós temos um amor mal resolvido é fato. Mas hoje eu tava me lembrando de uma vez que, quando ainda trabalhava com público, conheci uma senhora bem expressiva e meio, humm, safadinha. (Calma, lê até o final!). Ela, muito boa de papo – como a maioria dos idosos -, narrou, entre tantas histórias, a de um amor do passado. Ela me disse que era viúva e começou, sem querer, a me contar sobre o seu verdadeiro amor, a sua primeira e única paixão de verdade. Quando jovem, ela conheceu um rapaz simples, por quem foi se interessando aos poucos e se apaixonando. Devido ao rígido padrão da época, eles tiveram um namorico desses “de portão”, até que, por causa do tal “destino”- que atravessa a vida das pessoas quando a gente menos espera -, eles tiveram que se separar. Não quero fazer ficção, mas se não me engano, ele teve que viajar pra outra cidade temporariamente por causa de trabalho. E ele, como todo homem, arrumou outra mulher por lá, embora ainda nutrisse alguns sentimentos por essa minha nova amiga. A partir desse momento, eles afastaram-se, casaram-se com outras pessoas, viveram outras vidas que não aquela que começaram juntos. Naquela ocasião, ela me contou que descobriu o endereço dele aqui na cidade, que sabe alguma notícia a seu respeito e escreve cartas para ele. O conteúdo das cartas ela não me disse e minha imaginação “vai além”. Ainda, sei que ele é mais velhinho que ela, com a saúde mais debilitada e vi no seu rosto a expressão de quem poderia cuidar dele o resto da vida, embora ela não tenha me dito isso com todas as letras. Também descobri que ela freqüenta certos lugares, como o supermercado do bairro, por exemplo, na esperança de encontrar o seu amado.

Nessa história, o que mais mexeu comigo é que ela falou com muito carinho dele; o carinho de uma vida inteira. E fico pensando sobre esse tipo de relacionamento, que não deve ser muito difícil de acontecer. No amor, nem sempre fazemos as escolhas corretas; nunca temos certeza do que é melhor pra nós mesmos; tem coisas que só o tempo pode dizer. Ela encontrou o seu amor de verdade. Ela viveu esse amor, mesmo que não por muito tempo. Ela também viveu uma vida pensando no que poderia ter sido e não foi, mas ela falava tão doce, que em nenhum momento vi arrependimento nas suas palavras. De repente, ela viveu uma vida que nem era dela. De repente, essa história pode ainda ter um final feliz.

E o final dessa história eu não sei, e acho isso muito justo. Ela, mesmo me passando a impressão de que sabe tudo da vida, não sabe o final da sua própria história. Ou talvez saiba e tenha aceitado o seu destino. Assim, só posso ficar imaginando sobre o desfecho, e a vida é exatamente assim. Não sabemos como vamos acabar, embora isso não saia da nossa cabeça. Sempre imaginamos o melhor pra nós, mas e se não for bem assim? Se não encontrarmos a felicidade? E se encontrarmos e perdermos logo em seguida? A única certeza que tenho é que não vou esquecer as palavras daquela senhora, que parecia “soprar” conselhos nos meus ouvidos, que me conquistou com sua simpatia e história, e que me olhava como se precisasse ser escutada e entendida.

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