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sábado, 24 de dezembro de 2011

Desabafo de Natal ou ode ao tio bêbado




Todo final de ano é a mesma coisa. É sair pra comprar presentes de última hora e enfrentar filas desumanas nos shoppings. É arrumar briga nos estacionamentos por causa de uma vaga. É reunir a família pra comemorar uma data que ninguém sabe direito o que é. É quase querer desistir da vida com a programação de fim de ano da TV.

E reunir a família é sempre a mesma coisa. Parentes distantes que deveriam continuar distantes. Aquela gente que parece que se reúne só pra reclamar da vida, fazendo um verdadeiro campeonato de desgraças, cada um querendo fazer o papel de vítima protagonista. Tudo isso, fora aqueles presentes que só vão ocupar espaço em nossas vidas, pois, no que depender da gente, nunca serão utilizados.

O natal tem seus personagens típicos e eu não estou falando do Papai Noel, do Jesus Cristo ou do Roberto Carlos. Em todas as famílias existe uma tia que sempre dá aqueles presentes de deixar qualquer um com vergonha. Ela esquece que às vezes a gente só quer um presente normal, que não precisa ser nada criativo. Também me refiro ao pai, que sempre ganha meias ou cuecas, como se essas fossem as únicas necessidades de um homem. Me refiro ao tio que enche a cara e começa a falar “verdades”. Esse é “o cara”. Confesso que esse é o meu personagem preferido, contanto que ele não se lembre da minha existência. O tio faz o papel que nunca tivemos coragem de assumir, traduzindo os nossos pensamentos inescrupulosos em palavras que sóbrios jamais conseguiríamos pronunciar. E o melhor de tudo é que já vem com a desculpa pronta do “bebi demais”. Ele usa o álcool como facilitador social e não sofre sansão alguma. Eu quase conseguiria sentir inveja, se a situação não fosse tão medíocre. Até acho que todo mundo passa a “mão por cima” desse tio porque, no fundo no fundo, o seu desabafo é o mesmo desabafo de qualquer outro presente na festa de natal.

Todo natal é aquela champanhe meia-boca (pra não falar da sidra), aquele calor senegalês cada vez pior (maldito aquecimento global), aquele amigo secreto que nunca conseguiu ser realmente secreto (gente que não consegue guardar a língua dentro da boca). Todo natal são desenterradas aquelas musiquinhas-que-nunca-deveriam-ter-sido-gravadas e que grudam na cabeça da pobre criatura, sem contar o parente que sempre ressuscita o cd da Simone. Todo natal as mães se reúnem pra exibir e comparar seus filhos aos das outras e, de quebra, falar mal de mães alheias. As mesmas pessoas que dizem que não deveriam comer demais são as que dão panetones de presente.

Acho que é isso: o natal é a festa da “boca pra fora”, a celebração máxima da hipocrisia, que fecha o ano-que-podia-ter-sido-e-não-foi com chave de ouro. É quando começam a surgir todas aquelas promessas-que-vão-mudar-a-sua-vida para o ano novo, mas que não vão passar da ressaca do réveillon.

Neste Natal, quero registrar todo o meu reconhecimento ao tio bêbado, que todo o ano dá um toque mais sincero ao meu final de ano. Fica aqui o meu sincero agradecimento.

#porumnatalsemhipocrisia

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